Expediente campograndense

Acorda. Abre os olhos e segue em frente, tem o dia a ganhar. Ao descer pela avenida vê as primeiras manchas de luz que aos poucos dão forma ao horizonte da cidade grande. Cidade grande de hábitos interioranos. O fundo azul desenha na paisagem a grandiosidade das construções salpicados pelos intensos pontos verdes. A manhã, apesar de ordinária, é inesquecível.

A labuta rotineira não aliviará, e a recompensa também não será tão imediata. Ao menos parecerá ter algum valor. Os pensamentos e reflexão sobre um futuro, aos olhos carnais, longínquo se fazem pessimistas. A cabeça é levantada, e a após breve suspiro, a luta prossegue com o mesmo ânimo do início.

Não importa se ela é linda ou se ela passa. Não importa que ela tenha todo esse gracejo. O interessante é entender que não pode desviar do foco. O foco é o dever. O retorno virá da forma que for justo. Não se pode desviar do foco, mesmo que ela tenha um doce balanço à caminho do mar ou de Brasília.

Rotas foram criadas para evitar dispersão, apesar de não haver punição para aqueles que preferem se desprender do roteiro. Há consequências sim, às vezes dolorosas, às vezes a segunda opção se mostra melhor do que as outras. E é até normal parar no meio do caminho, se perder um tanto.

O caminho é não fazer questionamentos sobre a condição em que se encontra ou mesmo sobre quão a pena vale. O rumo está mais ou menos colocado nas ações. Agir. Independente de acreditar ou "ceticar" a respeito do resultado. Seguir em frente e esquecer os meandros, esse é o meu desatino.

O ceú se pinta de alaranjado, não mais evidencia o vislumbre arbóreo. Mas os prédios - tão rígidos - continuam lá. E aos poucos, até mesmo as maiores fortificações, são apagadas. Engolidas pelo breu. Agora polvilhado pelos pontinhos luminosos. Dorme.