Bar do Nado

Existem vários recantos do qual todos nós se escondemos, para esquecer das brigas, do trabalho, da falta de dinheiro. Pode ser um quarto separado em casa, a casa de um amigo, mas não importa onde seja, todos nós temos algum lugar.

Perto de minha casa havia um lugar, que noite após noite homens se reuniam, o "Bar do Nado", na verdade o nome era lanchonete Gonçalvez, mas é estremamente curioso que esses nomes nunca vingam, e acaba ficando um nome qualquer, muitas vezes nascidos de algum incidente cômico, nesse caso nado era o nome do dono e também garçon, Reginaldo Gonçalvez. Lá se reuniam todo tipo de pessoa, todas as classes, pois não se faziam distinções, sentavam atrás do mesmo balcão, e sob a mesma conversa todos davam sua opinião.

Lá pelas sete, quando o dia tinha saído, o breu da noite já tomava conta de todas as esquinas, o pessoal começava a aparecer. Um dos primeiros era o dandinho, sujeito baixo, de uns quarenta anos, mas que com trabalho árduo de pedreiro, e também a purinha diária, parecia bem mais velho, tinha o corpo moreno com pêlos brancos nos braços magros, tão logo chegava ia direto para seu lugar, o último banco do balcão, encostado na parede, e pedia sua dose diária, ficava sempre quieto, homem de poucas palavras, muito diferente do pastor, que na verdade era açougueiro, tinha esse apelido porque quando bebia tinha o hábito de pregar a palavra de Deus na frente do bar, era também o jornal do recinto, sempre bem informado sobre a vida alheia, vestia-se sempre com uma calça de linho velha, e uma camisa branca, com os botões abertos até a altura do peito, mal chegava já estava contando a última novidade que soube, e claro, sempre sendo retrucado pelo seu Vitório, que sempre esperava ele terminar a nova informação para mandá-lo cuidar de sua própria vida, mas ele nunca ficava muito tempo, pois sua mulher logo chamava ele pelo telefone para ir jantar, mas é claro que não saia de prontidão, tomava mais uma cervejinha, um pouco apressado, tão logo terminava, partia.

Assim passava as noites no Bar do Nado, com pedreiros, marcineiros, agricultores, brancos, negros, ficavam muitos até umas três horas, contando mais mentiras do que bebendo, então o nado mandava os últimos "pinguços" para casa e fechava, para no outro dia começar tudo de novo.

Certo dia passou um temporal pela cidade, destelhando casas e derrubando árvores menores durante a noite, no outro dia ao passar pela frente do bar, vi-o no chão, uma parede havia caído, o telhado estava todo no chão. Era o fim do Bar do Nado, que acabou se perdendo no tempo, junto com suas fofocas, suas brigas, suas amizades, caiu e deu lugar a outro estabelecimento, a fauna que habitava o bar se mudou para outro, só restou a lembrança de um lugar simples, uma lembrança que vai morrendo junto com a memória, com os antigos frequentadores que não resistem a morte, e sucumbem a existência, desaparece das ruas, atrás de novas casas, novos lugares para fugir, e o antigo bar vai desaparecendo, primeiro da matéria, depois da lembrança, como pegadas na areia.

maicon fran
Enviado por maicon fran em 16/02/2007
Reeditado em 16/02/2007
Código do texto: T382906