A Verdade da verdade



 
Das lições de cada dia, aprendeu do modo mais improvável que confiar nas pessoas é algo como uma loteria: há que se contar com a sorte. E, haja o que houver, há gestos que não devem ser concluídos e palavras  que não precisam ser ditas porque, óbvio,  guardam em si o efeito de uma guilhotina.
Aprendeu também, do modo mais doloroso, que há pessoas que cultivam a crueldade e a maldade com prazer e naquele dia esse aprendizado desabou em sua frente como uma avalanche e doeu mais ainda porque veio de quem veio.
Interpelado sobre a "verdade", sem pestanejar, declarou que era mentira... Afinal como confirmar uma “verdade” dita com o propósito de ferir, de magoar, de fazer sofrer? Como confirmar uma verdade que tão somente era estratégia de vingança?
Concluiu, não sem tristeza, que a verdade, para um tipo pessoa que faz pose de "verdadeira" é o escudo da maldade, do sentimento de mesquinhez revelada na alma humana.
E mais do nunca refletiu que
"a covardia é a mãe da crueldade",  que "não há fatos eternos, como não há verdades absolutas"** e que "jamais devemos  aplicá-la (a verdade) com dureza, como se fosse uma arma para destruir os outros, pois assim tornada perde a finalidade primeira que é a de libertar."***
             
 


* Michel de Montaigne
**Friedrich Nietzsche
** *Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco


Da Série PARA REFLETIR