Duas Vidas, Um Mundo

Segui pela rua vazia, abrindo meu guarda-chuva e ignorando o mundo que desabava sobre mim. Ia em direção a uma pequena ponte que passava por um rio amarronzado. Logo a frente, uma figura chama-me a atenção, então paro. No meio da passarela, dois brilhantes olhinhos me observavam. Era o olhar de um cão, fixo e sereno em mim. Parado, seu corpo todo sacudia com o frio. Ele estava sozinho e parecia petrificado com a minha presença. Fui andando até seu encontro e me permiti agachar perto dele. A pequena criatura voltou a me observar, encolhendo seu corpo com minha aproximação. Peguei meu guarda-chuva e coloquei acima de seu corpo, protegendo-o das lágrimas do céu.

Seus olhos se encontraram com os meus e ficamos assim por alguns segundos... As orelhinhas encharcadas, antes levantadas, caíram e um pequeno som de choro podia se escutar vindo dele. Passei a mão pelos seus pelos, me permitindo chorar também. Emocionado, sussurrei-lhe baixinho: "Está tudo bem, está tudo bem. Vamos para casa... nossa casa".

Seguimos pela ponte, atravessando a cortina d'água; Ali, deixávamos para trás dois mundos e mergulhávamos em um novo. Eu e ele. Ele e eu. Juntos.