Vaso Vazio
Sentou-se na areia escura, admirando o extenso mar que dançava no horizonte. Estava perdida entre as rochas cristalinas, como uma estrela prestes a perder seu brilho astral.
Trazia em mãos um recipiente de granito que contrastava com o rústico do ambiente. Dentro dele, estava um pedaço de seu coração, que havia se transformado em pó.
Tateou o bolso do casaco e em seguida tirou um pequeno retrato de lá. A foto guardava o rosto de um jovem em uniforme militar, sentado sob a sombra da árvore.
Em segundos, seus olhos eram um espelho d’agua.
Então foi tomada por uma saudade indizível, que lhe remetia a uma época simples e grandiosa. Eram tempos passados que não voltariam mais. E uma grande parte de sua infância e de sua adolescência descansava dentro do recipiente em mãos. Agora, adulta, restara-lhe somente a imagem dele correndo pela praia como se não houvesse amanhã, o som de sua última risada eletrizando-a em cada célula do corpo.
Retirou a tampa do vaso e olhou para o lado, onde a praia acompanhava o caminho da longa encosta. Trouxe o rosto para o céu e deu um calmo e profundo suspiro, engolindo as lágrimas. Então, para si, disse:
“Dessa vez iremos correr juntos. Não haverá vencedores.” Sussurrou astuta. Em seguida, completou entre uma risada e outra “Viu? Eu disse que era uma irmã bacana”.
O vento envolveu suas últimas palavras, soprando em seus ouvidos a resposta que ela sabia que viria dele.
“Isso nós veremos!”
E então ela seguiu correndo pela areia úmida, o corpo vibrando em sintonia com seu coração. Do seu lado, as cinzas dançavam no ar como vaga-lumes.
Quando chegou ao final, virou seu corpo para trás, observando o vento marítimo carregar seu irmão para longe. Antes das cinzas dissiparem, vislumbrou pela última vez o seu rosto sorridente, cujos lábios diziam:
“Dessa vez você ganhou, irmãzona”.
Em prantos, sentiu a vitória derrotá-la por dentro.