DOR DO MUNDO

Juntos, eles contemplam o infinito. Nada há. Nada mais há além do instante em que o infinito os atravessa com toda a sua enormidade.

Ela descansa a cabeça no ombro dele. Ele lhe afaga os cabelos ternamente, os dedos dançando e penetrando fundo naqueles fios claro-escuros, enchendo-se deles, envolvendo-se com eles, acariciando-os.

Estão tão próximos que parecem um. Um ser andrógeno, a olhar para o infinito, detestando tanta grandiosidade e reconhecendo-se mínimos e impotentes diante de um nada que ao mesmo tempo é tudo – tudo-nada-nada-tudo-tudo...

O tempo não passa. Não precisa passar. O que é o tempo diante do infinito? O tempo também é mísero ator no teatro da morbidez do infinito. O tempo nem precisaria existir, porque o infinito o faz sucumbir.

Agora eles se abraçam e se unem mais e mais. São de fato uma simbiose. Um ponto na areia. Um ponto cercado por um infinito de sombras, incertezas e inexorabilidade, principalmente. Ela balbucia algo que ele ouve como se saísse de sua própria boca.

- O mundo é mau, meu bem. Mau.

Ele não concorda nem discorda. Apenas a abraça mais forte, quase insuportavelmente forte. Agora são uma espécie de célula que se perdeu no lusco-fusco de um universo todo que os engole.