ISLÂMICO

Às vezes na vida, cometemos muitos erros, e alguns pequenos acertos. Podemos escolher a profissão certa, os amigos certos, a mulher certa, mas é difícil escolhermos o caminho certo. Na verdade, nem sei se ele existe, porque às vezes no meio da nossa caminhada, seguimos por um atalho mais curto, e acabamos por mudarmos nossa vida completamente.

Eu tenho um grande amigo. Companheiro de profissão, e pelo pouco que sei uma pessoa que durante sua juventude sempre buscou o caminho certo a ser seguido na religião. Viu de tudo, buscou tudo, fez experiências, mas só encontrou a paz de espírito na religião Islâmica.

Estudou os dogmas da sua doutrina, apreendeu a língua árabe, mudou o seu jeito de ser, alterou sua fisionomia e seguiu os seus preceitos.

Na juventude homem de muitas mulheres, rua, festas, vícios.

Na vida sempre chega a hora de mudar, e a religião mulçumana lhe mostrou o caminho correto.

Homem carente queria uma mulher, queria filhos, queria uma família, queria respeito, e um caminho a ser seguido.

Um dia durante o plantão iniciou um dialogo.

--- acho que estou apaixonado. – disse ele, com o seu notebook sobre as coxas e digitando loucamente.

Sorri. Ele tinha acabado de passar uma desilusão amorosa, ainda estava em fase de recuperação, o seu coração ainda estava um tanto inconformado.

--- não é cedo demais para pensar em outra mulher, você acabou de separar, não faz nem dois meses. – retruquei, sem olhar para ele, eu também estava digitando na net.

--- desta vez é diferente, ela também segue os dogmas do Islamismo. – alegou.

--- que bom, e você a conheceu na Mesquita. – indaguei.

Ele riu.

--- não.... Ela mora no Líbano, estamos conversando pela internet.

Desta vez fui eu que ri.

--- colega, você esta ficando louco, é do outro lado do mundo.

--- pois é você não pode falar nada, a sua também foi por meio eletrônico. – insinuou ele referindo-se a minha ex-namorada

--- é verdade, mas ela morava a dez minutos de casa, a sua do outro lado do mundo, existe uma diferença, concorda?

--- não... Se eu gostar dela e ela de mim, a distancia é apenas um fator tempo, um calculo, e eu sou bom de conta. – novo sorriso.

--- você tem foto dela? Como ela se chama?

--- claro, estamos conversando no MSN, veja, o nome é Karima.

Levantei-me da cama e fui ver a mulher que estava deixando o meu amigo de joelhos, em posição maometana.

Olhei. Vestia-se como uma verdadeira mulçumana, mas o seu rosto estava à amostra. Realmente, era linda.

--- puxa, você tem bom gosto, estão conversando em qual idioma?

--- português, ela fala vários idiomas, inglês, árabe, português, alemão.

--- nossa mulher culta, mas mora no Líbano, como você vai fazer para conhecê-la pessoalmente. – indaguei.

--- ela disse que tem um irmão que mora em S.Paulo, eu vou primeiro conhece-lo e ver se ele permite que eu vá para o Líbano.

--- entendi. Quer dizer que ele tem que autorizar o encontro. É isso?

--- sim, as mulheres mulçumanas obedecem aos pais, e os irmãos mais velhos, não são iguais as brasileiras que acham que tudo podem. – retorquiu o meu amigo. Ele estava mesmo seguindo a risca os preceitos da nova religião. Eu, como seu companheiro de plantão aprovava a mudança, ele se tornara um novo homem, abandonara os vícios e agora estava disposta a mudar o conceito de vida. Quem sou eu para querer ensinar alguma coisa para alguém.

--- na semana que vem você me conta como foi o seu encontro com o seu futuro cunhado. – desdenhei da capacidade resolutiva do meu amigo.

UMA SEMANA DEPOIS.

Entrei um pouco atrasado no plantão.

Encontrei o colega Mustafá, este era o nome que ele adotara na nova religião, agitado vindo em minha direção.

--- aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.

--- o transito na Dutra estava congestionado, acidente com um caminhão. – expliquei, caminhando em direção ao alojamento dos médicos.

Abri a porta e entramos. O notebook de Mustafá estava sobre a cama.

Lembrei na nossa conversa há uma semana.

--- então, foi se encontrar com o seu cunhado. – ri, enquanto colocava o uniforme do Hospital.

--- senta ai, e eu vou lhe contar, preciso da sua ajuda. – sua voz denotava preocupação.

Sentei-me, e aproveitei para trocar os sapatos.

Ele sentou-se a minha frente, na cama do lado, onde o seu note se mantinha ligado. Foi direto ao assunto.

--- como eu disse que faria eu fiz, fui até S.Paulo e encontrei com o irmão da Karima, ela já o tinha avisado de que eu iria procura-lo.

--- não acredito. E dai o que aconteceu.

--- fomos almoçar em um restaurante árabe, e eu me senti como um pecador sendo julgado, trucidado, espionado, quase devorado.

Ri.

--- cara você é louco, eles são radicais, não pensam duas vezes em dar um fim em você. – sugeri

Ele olhou dentro dos meus olhos, colocou as mãos nos meus ombros.

--- você esta muito enganado, vocês imaginam coisas que na verdade não são reais, como dentro de toda religião existe facções radicais, na igreja católica, crente, anglicana, judaica, o mesmo acontecesse com a religião mulçumana, a Mesquita que eu frequento é uma ramificação de paz e tranquilidade, foi esses ensinamentos que mudaram o meu modo de ver a vida.

--- desculpe, não quis ofende-lo.

--- esqueça, escute o que eu tenho para contar. O almoço foi maravilhoso, Maklub, costela de carneiro, com arroz.- explicou.

--- legal, prefiro peixe.

--- eu sei, mas carneiro é uma carne muito apreciada pelos árabes, mas vamos o que interessa. O meu cunhado autorizou eu ir para o Líbano para conhecer a sua irmã, ele é o irmão mais velho e gostou da minha sinceridade, da minha profissão e das minhas intenções.

--- não acredito, quer dizer que você vai mesmo atravessar o mundo atrás de uma mulher de outra nacionalidade, de outras conceitos, um outro modo de viver, isso é loucura. – afirmei impensadamente.

--- amigo, eu quero uma mulher mulçumana, que cuida do seu homem, que o espera para jantar, que arruma suas roupas, que o ajuda em seu banho, que o respeita como marido e protetor, é isso o que eu quero.

LEVANTEI-ME.

--- ok, não vamos discutir o gosto por mulher, eu prefiro as brasileiras, e você a mulçumana, cada um tem o seu gosto, precisamos trabalhar a maternidade esta um caos. – iniciei a caminhada em direção à porta. Ele segurou-me pelo braço.

--- preciso de um favor seu.

--- peça.

--- vou viajar a semana que vem você terá que fazer os plantões sozinhos, vou ficar 15 dias no Líbano, quero voltar com a minha esposa de lá.

Eu não podia deixar de rir.

--- você esta ficando louco Mustafá, jamais a família dela deixara uma moça de 19 anos sair do País e vir para um mundo desconhecido com um homem que mal eles conhecem.

--- eu não vou sozinho, o irmão dela que é o mais velho, vai comigo, e o responsável pela Mesquita também vai. Eu só preciso que você faça os plantões sozinho. Posso contar com você.

O que ele pedia era um sacrifício que eu não faria para qualquer colega, ficar sozinho de plantão seria o mesmo que trabalhar quinze dias 24 horas por dia. Pensei. Já estávamos no corredor, quando lhe dei a resposta.

--- tudo bem, conte comigo, quero ver você feliz, apesar de não acreditar que essa história vai dar certo, mas torço por sua felicidade.

Ele sorriu colocou a mão em meu ombro e retrucou.

--- eu tinha certeza de que você não me deixaria na mão.

O plantão foi puxado, mas como ele disse no final do dia, misericordioso, tudo deu certo.

Despedimo-nos, nos abraçamos e lhe dei boa sorte.

QUINZE DIAS DEPOIS.

Chegamos ao plantão praticamente ao mesmo tempo. Ele estacionou o carro e eu fiz o mesmo, um ao lado do outro.

--- assalamu alaikum. – disse ele alegremente.

Eu não sabia o significado da frase. E respondi em bom português.

--- bom dia Mustafá, como foi à viagem?

--- ótima. Estou esperando a resposta da família, eu a pedi em noivado, e se a família concordar, ela vai tirar o passaporte e vir para o Brasil, dai então poderemos nos casar.

--- que bom, realmente inacreditável, e quando você vai ter essa resposta?

--- hoje, a família esta reunida no Líbano, até a tarde eu saberei se ela vai ser ou não a mulher da minha vida.

Recebemos o plantão com o pré-parto cheio, conversamos pouco durante o trabalho. A maternidade estava agitada e problemática.

No final do plantão, finalmente juntos repassamos o dia. O sorriso de Mustafá demonstrava sua alegria.

--- pelo que eu vejo tudo deu certo com você. - insinuei

O amigo abraçou-me, um abraço forte de quem esta feliz. E repetiu a frase do inicio do dia.

--- assalamu alaikum.

Eu precisava saber o significado.

--- o que quer dizer a frase.

Ele sorriu.

--- que a paz de Deus esteja com você.

Eu sorri.

--- assalamu alaikum. Diga-me, como ficou o noivado.

--- tudo certo, ela vem como turista na semana que vem, vou apresentar a minha família, ela vem com a mãe para conhecer minha casa, minha cidade, minha vida. Eu estou feliz.

ADOECI, E NÃO PUDE FAZER O PLANTÃO SEGUINTE.

Fui encontrar o meu amigo mulçumano quinze dias depois.

Eu nunca o tinha visto tão feliz. A todo o momento, conversava com sua amada, a orientava sobre como sobreviver em nosso País. A diferença cultural era enorme, o modo de vida completamente diferente, mas ela tinha gostado do Brasil.

O amor Islâmico é igual a qualquer amor verdadeiro, talvez mais rígido, mais compromissado, mas a finalidade é a mesma.

Um homem, uma mulher, que se unem em busca de uma vida terrena cheia de paz, amor, e tranquilidade, no intuito de conseguir encontrar a mesma paz no reino de DEUS, quando a nossa existência aqui chegar ao fim.

Hoje ela esta gravida, e ele será pai de uma linda menina, o fruto de um amor Islâmico verdadeiro já tem sua primeira semente.

AMIGO, GUARDE COMO LEMBRANÇA DOS NOSSOS PLANTÕES.