GOLEIRO FRANGUEIRO É A MÃE!

Nino havia sofrido uma contusão séria no dedo mínimo da mão esquerda ao defender uma bola num "racha" de futebol de salão. Goleiro é isso aí. Marcaram então, logo em seguida, um torneio em uma cidade próxima. Seriam dois times: o principal e o "cascudo" (assim pejorativamente chamado o time dois). Nino, é claro, pediu dispensa, uma vez ainda não recuperado da contusão.

-Nada disso - disse-lhe o técnico - precisamos de você no gol. O que podemos fazer é colocá-lo no time dois.

-Tá bom! disse Nino conformado. Êta falta de juízo.

A quadra era uma lástima e a iluminação nem se fala. Primeiro lance, bola linha de fundo, tiro de meta. Nino lança a bola com o pé para um de seus companheiros. Este passa o pé por cima da bola, numa atitude típica de quem vai lançar à frente, e de repente chuta contra o próprio gol, num lance conhecido como "atrasar a bola". Ora, embora Nino estivesse atento ao jogo, foi pego de surpresa e tomou um golaço entre as pernas. Gol e, pra piorar, contra. Manja a torcida adversária:

-Frangueiro! Frangueiro! Frangueiro!

Alguns torcedores do time adversário que estavam atrás do gol passaram a insultar Nino:

-Frangueiro! Ruminante! Viado! - É mole?

Segundo tempo. Três a três, quase final do jogo, o time da casa dispara um chutão que veio à altura do travessão:

-Ah! Esse é fácil - pensou Nino.

Com os pés quase sobre a linha do gol, Nino levanta os braços para acolher a bola com as mãos em forma de concha. Ih! O dedinho contundido estava lá desprotegido e "fisc". Deu uma fisgada e a bola, solta, rola pelo chão "penosamente" passando pela linha à dentro. Goool. E toma:

-Frangueiro! Frangueiro! Frangueiro!

Não tendo como explicar, só sobrou ao Nino esperar o final da peleja, sentindo-se o pior goleiro do mundo. Nada não, haveria revanche, agora em casa. Jurou:

-Hoje eu morro na quadra, mas não perco o jogo - disse confiante, embora ainda não totalmente recuperado da contusão.

Agora era a sua torcida gritando seu nome a cada bela defesa:

-Nino! Nino! Nino!

Melhor ainda: recebeu a medalha de goleiro menos vazado. Agora pôde sentir-se um vencedor. Esse era o Nino. É na derrota que se conhece um campeão!

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 30/10/2012
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