O maior roubo de todos os tempos
Ele era pardo, trinava rouquinho. Uma doçura de existência.
Eu estava tão parada que de certo o passarinho me confundiu com uma estátua. Ou achou que eu era um dele. O Bengalim se aproximou, pousou na mesa, na cadeira, ciscou algum alimento invisível, voltou ao muro, e foi aí: conquistou o mundo. Cantou com o bico bem aberto, as asinhas arrepiadas, um trinado de vingança, do jeito que só canta quem um dia foi proibido de cantar. Roubou o mundo diante dos meus olhos incrédulos. Tudo desmoronou à sua bonitice.
- A senhorita foi testemunha passiva de um crime! O roubo do mundo! Merece prisão perpétua! - Me dirão, com o dedo em riste apontando a minha cara. Ficarão realmente indignados quando eu disser:
- Pois podem me prender! O mundo não foi roubado, eu o troquei com o Bengalim! Foi uma troca justa! Eu ofereci o universo inteiro por um trinado dele! Foi o trinado mais belo, e eu vou usá-lo como matéria de sonho todas as noites, para sempre!