A NOTÍCIA

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Conto escrito por Simone Possas Fontana em agosto/2010

O telefone tocou. Atendi. Era o Sr. Lotário.

- Simone? – perguntou a voz masculina.

- Sim. Pois não. – respondi automaticamente.

- Bom dia, Simone!

- Oh! Bom dia, Sr. Lotário! – retruquei alegre, pois há quase dez anos atrás trabalhei numa empresa, na qual o Sr. Lotário era diretor e meu chefe. Tempos bons aqueles.

- Puxa! Reconheceu minha voz depois de tanto tempo? – disse-me ele entre incrédulo e feliz.

- Bom, não tenho uma notícia boa para te dar. – continuou ele, agora com outro tom de voz.

- É. Imaginei isso, Sr. Lotário. Já faz tanto tempo que não nos vemos e não conversamos. Para o Sr. Ligar aqui em casa, deve ser uma notícia muito importante. – respondi seriamente, procurando uma cadeira para sentar, já prevendo que não seria uma boa notícia.

- Então... hã... bem... – titubeou. Não sabia como entrar diretamente no assunto sem me assustar ou magoar.

Já estava assustada, com os olhos arregalados, coração acelerado, suor nas palmas das mãos. Criei coragem:

- Pode falar, Sr. Lotário.

- Tá. Aconteceu um assalto no Cartório do 7º Ofício e o Sadi estava lá. Pronto! Falei! – despejou ele ao telefone.

- E daí? Ele foi assaltado também? Houve tiros? Alguém se machucou? – perguntei aflita.

Silêncio do outro lado da linha.

- Sr. Lotário, o Sadi foi ferido? Está machucado?

O silêncio continuou.

Meu amigo Sadi. Sadi era meu companheirão: colega na empresa e amigo fora dela. Lembrando-me dele, recordo das viagens, passeio de trem, banho de cachoeira, acampamentos, bares, cervejinha. Para mim, ele continua sendo meu amigo do peito. Penso sempre no Sadi com carinho e recordo-me com saudade daqueles bons momentos. Em poucos segundos revi toda nossa amizade, que continua até hoje, mesmo que a falta de tempo e oportunidade não nos tem deixado tão próximos como gostaria.

- O que aconteceu com o Sadi? Alô! Sr. Lotário! O Sr. Continua na linha? – nesse momento já estava quase gritando e andando de um lado para o outro da sala. Aquele silêncio me enervava, afligia, queria uma resposta!

- Sim. – respondeu com um “sim” fraco, sem vida, sem vontade de falar, parecia que estava arrependido de ter me telefonado, mas não podia deixá-lo desligar. Ele tinha que me contar o que acontecera.

- O Sadi está ferido? Machucado? Ele morreu?? – nesse momento eu já estava chorando.

- Sim. – respondeu-me tristemente.

Fiquei sem fala, sem resposta e desliguei chorando, não acreditando no que eu acabara de saber.

Acordei com o rosto banhado de lágrimas. Suspirei aliviada. Fora apenas um pesadelo. Mesmo assim fui correndo telefonar para o Sadi para saber se estava tudo bem com ele.