Tião do Saco na capital

* Atenção: Se você é um amante do português culto e bem falado NÃO leia o relato abaixo:

Êta vida difícil! Num sei pruquê eu saí do interiô rapá... Má quem foi que mandô eu ser burro também, agora eu tô aí, drumino no mato, fedendo mijo de cachorro. Num sei pruque criaru este tal de trabai! Palavrinha nojenta! Se não fosse aquela velha da Inbira ter me mandado pra cá trabaiá, eu nunca tinha vindo pra esse inferno. Vou contar procês!

Sabe gente, eu vivia na cidadezinha dos Quatro Pé, no interior do Maranhão. Lá era tão "bunitin" tinha uns mato nu xão assim pros minino brincá, tinha umas água assim na rua pra lavá os pé pra num xuxá a casa, tinha até fruita na rua pra gente cumê a servservice.

Aí um dia, Dona Inbira dos Cachorro Véi (é só apilido, viu gente), chegou pra mim e falou:

- Ô Tião do Saco, ô Tião do Saco - é que eu carregava saco na roça - vem cá meu fio. - A véia era anarfabeta. Falava assim mêmo.

- Que que foi minha cachorrona? - Vira lata mêmo, viu gente. Aqui onde eu tô tem umas pit-bulzona muito mais forte.

- Óia aqui nesse mapa. - eu oiêi no mapa - Tá vêno esse instado aqui? Chama Sun Paulo, meu fio, Sun Paulo. Só que num é santo de rezá la igreja não. É só no nome mêmo. - Bati o oio lá e vi o tal do Sun Paulo. - Cê vai pra esse lugá, vai trabaiá e vortá pra cá daqui dois anu. Entendeu? - Quem num deve tê entendido nada é o leitor, coitado, mas, continuano... Eu oiei pra ela e falei:

- Vô sim, véia, vô sim. Que dia?

- Amanhã mêmo. Vai de ônbus. - Andar de ônbus era tão ruim. Os povo ficava passano uns suvaco fedorento na cara da gente. Mas, fazê o quê né, num tenho carrão mêmo.

No outro dia vim pra Sun Paulo. Tudo bem que demorei mais de um dia pra chegá, é que o ônbus krebô e nóis teve que dá uma empurradinha. Mais nós chegô sim senhô!

Depois que eu cheguei aqui minha vida mudou tudo assim sabe? E ficô foi bão, cê num tá acreditano? Aprendi a varrê latinha nas rua, a corrê dos policia, e pegá cumida na feira escondido. Ish, ficou tão bão que eu até aprendi a escrevê!