No passo certo

Ambulantes, carros, buzinas, conversa, movimento na rua e eu como de costume, mesmo a passos rápidos, absorta nesse meu pensar.

De repente, algo me faz retornar da introspecção - Um olhar sobre mim - Sem diminuir o passo, percebo um homem a me fitar. Estava no banco de trás de um carro estacionado a minha direita no meio fio; camisa azul deixando a mostra o braço bronzeado apoiado na janela. Devia ter uns trinta e poucos anos e não era o que se poderia dizer um homem bonito, mas tinha traços bem marcantes e olhos negros muito brilhantes.

Diferentemente do olhar comum dos homens comuns, este era mais firme, insinuante, ganancioso, até um pouco agressivo e olhava dentro dos meus olhos mas era como se inteira e completamente me desvendasse.

Nesse instante não me reconheci - gelei, tremi, faltou-me o ar - todos os meus sentidos estavam presos naquele único andar. Não sei precisar quanto tempo ficamos nos olhando. Poderia dizer que foi o trocar de três passos, espaço muito curto de tempo mas o suficiente para que aquele homem me possuísse e eu me entregasse.

Retornei então meu olhar a frente e segui em frente o meu caminhar.

Isso aconteceu quando eu tinha 16 anos. Nunca mais o reencontrei e ele nunca soube que foi o primeiro homem a despertar a minha identidade e vontade de mulher.

Luiza Moreira
Enviado por Luiza Moreira em 03/03/2007
Reeditado em 03/03/2007
Código do texto: T400342