MEMÓRIAS DA TIPOGRAFIA II

Como todos sabem, uma resma corresponde a 500 folhas de papel independente do tamanho da folha. As destinadas ao setor gráfico tem, além de cores e gramaturas diversas, o tamanho de 66 x 96 cms.

Pois bem, cortar o papel ou diagramar o conteúdo a ser impresso de forma a aproveitar o máximo da folha é uma técnica, senão uma arte. Dependendo desse aproveitamento às vezes não sobra nada, porém há casos em que sobram retalhos, os quais chamávamos de "aparas", que nem sempre eram descartadas.

Certo dia, eu já gerente da tipografia aos dezessete anos, recebi um pedido para que cortasse várias "aparas" em pedaços menores, para que pudessem ser atirados do alto dos edifícios por ocasião da recepção de algum político da época, coisa muito comuns nos anos sessenta.

A máquina de cortar papéis, conhecida como guilhotina, consistia basicamente numa mesa, uma prensa e, paralela a esta, uma peça na qual era afixada uma lâmina de cerca de dez centímetros de largura por uns oitenta de comprimento, tudo em aço, que descia rente à prensa em diagonal até chocar-se com um perfil de madeira encaixado na mesa e destinado a proteger, naturalmente, a "faca" ao final de seu movimento de corte. Para acioná-la havia uma alavanca à direita do operador. Era uma máquina, digamos, perigosa se mal operacionalizada.

Então, para que a cada corte eu não precisasse soltar a prensa e puxar novamente a alavanca, pedi ao Jaime que segurasse a alavanca enquanto eu ia empurrando as "aparas" longitudinalmente sem usar a prensa, já que não havia necessidade da precisão nos cortes. E fomos fazendo isso até que em determinado momento, tendo terminado uma série de cortes, eu, inadvertidamente, enfiei os braços sob a prensa no intuito de retirar os papeizinhos já cortados, quando meus ouvidos, acostumados ao baque do travamento da lâmina a cada corte, não acusou o travamento, momento em que rapidamente retirei os braços sentindo a lâmina tocar oito de meus dedos estirados, logo acima das palmas das mãos e cravar no sarrafo de madeira.

O que havia acontecido: o Jaime não percebeu que havia acabado aquela sequência de cortes e eu, imprudentemente, quase tive amputados oito de meus dedos. O Jaime não sei, mas eu tenho até hoje arrepios e sonhos maus por causa desse evento e agradeço sempre aos Anjos de Deus que me protegeram naquela hora. Obrigado, SENHOR!

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 14/12/2012
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