Desventuras em Verona

Estava eu, poderosa, rica, bonita, numa brilhante rodovia que nos conduzia a Verona. Para quem não sabe, é uma cidade italiana. Eu sou muito boazinha, ensino até quando não precisa, mas tudo bem, voltando... De repente vejo-me em minha frente a uma grande placa em inglês escrita “Welcome to Verona”. Quase pulei do taxi em que estávamos. Era meu sonho conhecer esta cidade. Já até imaginava o antiteatro, a catedral, os palácios... Ai que lindo!

- Meu Deus, Meu Deus, é Verona, é Verona! - Dizia eu, toda entusiasmada ao me deparar com a gótica catedral da cidade.

- A senhora podia fazer silêncio? Está me atrapalhando a dirigir. - Falou o motorista, que, por sinal, é muito mal educado. Mas eu também não estou nem aí! Não vou nem pagar nada pra ele. Vai morar na rua se quiser. - Chegamos! - Disse ele com voz de boi.

- Obrigado! - Abri a porta para sair do carro.

- Ei, senhora, o dinheiro. - Ai meu Deus, que dinheiro? Eu não trouxe dinheiro.

- O hotel já não pagou? - Pelo amor da sua mãe, diga que sim.

- Não trabalho pra hotéis, minha senhora. Me dá o dinheiro. - Já estava com vontade de falar muitos palavrões pra ele, mas com este português estranho, ele não entenderia nada. Olhei na bolsa, olhei de um lado, olhei de outro e cadê? Socorro, meu Deus!

- Olha só, seu motorista. É que...

- A senhora não tem dinheiro, é isso?

- Na verdade eu tenho sim, mas sabe o que é? - Estava com medo. O que será que aquele homem faria.

- Não, não sei e nem quero saber. Cadê o dinheiro. Ande, trezentos euros. Agora. Abre a bolsa e pega.

- O quê? - Meu Deus do céu. Ele não ia me deixar ir embora. Resolvi apelar para o emocional. - Moço, olha só: é que eu sou brasileira e é a primeira vez que venho a Verona. Eu esqueci o dinheiro no hotel. Não estou com nenhum dinheiro aqui agora. O senhor me desculpe viu. - Ele amoleceu aquela cara gorda.

- Entra no carro. - Achei que ele iria me sequestrar.

- Pra quê?

- Vamos pra este tal hotel! Lá quero receber o dobro. Agora entra, vamos, não tenho tempo a perder. - Ele quase me varreu pra dentro do taxi.

Aquele homem com voz de boi menstruado estava a ponto de me arrancar os miolos. Jesus do céu, eu preciso voltar viva pro Brasil. E se ele me mata aqui? Bem, acho que o pessoal da Itália é bonzinho. Ele não iria querer me matar aqui. Pelo menos espero que não. Vou tentar fazer amizade. Quem sabe funciona.

- Porque o senhor está tão bravo? - Porque perguntei isso, meu Deus, porque?

- É porque tenho dois filhos pra criar e a senhora vem querer me passar a perna. Além disso, estou esperando uma mulher que vem do Brasil hoje fechar um negócio comigo. Sou dono de um pacote turístico sabe, fechei um pacote com uma tal Ana.. Gabrielle Vaskes, em R$ 7.000,00 por um mês aqui. - Ai meu Deus, agora estou morta mesmo. A tal Ana Gabrielle Vaskes sou eu! Santo Deus! - Além disso, se eu não chegar na minha agência em uma hora, eu não recebo. A senhora está entendendo? E por falar nisso eu vou ligar no celular dela.

Desliga, desliga o celular. Se ele ligar, o meu celular vai tocar. Socorro, socorro! O que faço agora? Já sei. Observe: tem um pedaço da janela aberta. Yes! Abri a bolsa, achei o celular e joguei pela janela. Pra fingir de vítima, ainda gritei:

- Para o taxi, meu celular caiu. Pare, por favor. - O homem parou.

Desci do carro torcendo pra ele ter quebrado... Mas que macumba fizeram pra mim, meu Deus do céu. O celular tinha caído em cima do estrume da vaca e ainda estava vivo. Me deu vontade de chorar, de rir, de gritar. Resolvi deixá-lo lá mesmo.

Quando olho pro tal do motorista, não é que ele está ligando pra tal Ana Gabrielle. O meu celular ia tocar, o que fazer agora. Jamais teria sete mil pra dar pra este doido agora. Fiquei desesperada. Orei pra todo mundo que conhecia. Resolvi falar:

- Meu senhor, meu senhor. - Disse calmamente.

- O que foi? - Rugiu ele.

- É que... é que... A Ana Gabrielle Vaskes sou eu sabe?

- O quê? - Meu medo aumentava a cada olhada.

- Sim, sou eu, olhe só. Mostrei a carteira de identidade. - Meu coração batia a dez milhões por segundo. Eu ali, na Itália, sem ter com quem me corresponder, com um gordo motorista de taxi. O que mais poderia me acontecer?

- Sra. Ana, minha amiga! - O que ele está dizendo meu Deus? - Esperei tanto pela sua chegada que até não vou mais cobrar a conta.

- O quê? - Que homem mais louco!

- É que eu abri um hotel agora sabe e fiz uma promessa que a primeira cliente ganharia desconto em tudo. Meus parabéns! - Nossa, que alívio!

- E... o hotel que eu vou é para o seu? - Acho que não comprei este pacote!

- É sim, não se lembra? Hotel Virgem do Porto, próximo á saída de Verona, não está lembrada?

- Sim, sim, eu me lembro. - Comprei o pacote ontem! - Que bom que o senhor veio me buscar, de taxi! E o hotel, é bom?

- Olha, minha senhora, estou dando este desconto porque infelizmente lá ainda não ficou pronto sabe? E não quero que nos denuncie para a vigilância. Ainda não temos chuveiro, nem banheiro, nem pia, nem geladeira, - Meu Deus, pra que inferno eu estava indo? - nem funcionário, nem nada, só a sua companhia e uma cama. Vamos?