Noite de lua...exausta, sentei sobre às madeiras amontoadas embaixo da árvore.
Carlos tinha pego lenha seca, na esperança de estruturar, o que ele denominou - fogueira. Desajeitada arrumação de paus e gravetos, o cotidiano; a mesmice do dia a dia, tinha nos consumido a pasciência.
Estressados resolvemos viajar, rumo ao campo. Um simples ruído, meio ao mato, nos sobresaltava, amendrontava.
Acostumados com à cidade grande e,  sua peculiar agitação; com seus arranha-céus; buzinas de carros, e o passar neurótico dos transeuntes,  esbarrando em nós... Àquele silêncio,onde só se ouvia o chilrear longe e assustador das aves; o canto das cobras; o lamento tal qual, o choro de bebês – das rãs – no riacho ao lado; às incontáveis luzinhas na escuridão, como se fossem piscas-piscas – vagalumes – levando-nos à refletir, diríamos ser: o céu na terra!
Estávamos em férias, com o casamento comprometido - quase em falência,uma loucura.Não havia entendimento. A nossa convivência, estava se tornando insuportável. Não conseguíamos ver encanto,em nada... Até mesmo quando nos recolhiamos, para dormir, sempre havia uma desculpa, para que não fôssemos juntos à cama... Um caos!Resolvemos então, viajar.Resolvemos visitar a fazenda de uns amigos,que insistentemente nos convidava.

Não tínhamos filhos, ainda. Carlos, não os podia gerar, por ter varicocele – varizes no testículo -,peculiar ao sexo masculino; os homens que não possuem  válvulas no interior das veias do testículo, para impedir o retorno do sangue ao coração: sangue drenado. Assim sendo, acontece o refluxo, no sentido errado, permitindo que este volte ao escroto, ficando parado, e causando inchaço, gerando a varicocele.

Ah! Como eu queria ter filhos...
Isso, afetava a nossa vida totalmente.Principalmente, sexualmente. 
Carlos julgava-se incapaz, e isso estava levando-o a impotência sexual.Ele tinha passado por uma cirurgia, porém, sem sucesso até então.


Sabemos que a varicocele pode ocorrer em qualquer dos testículos, ou em ambos.Comumente, acontece do lado esquerdo, devido ao fato, da veia espermática deste lado, desembocar na veia renal esquerda, por ser um ângulo reto, isto é, de 90°, sendo a pressão deste lado, mais forte, mais alta, que a do lado direito, onde a veia espermática, desemboca de forma oblíqua.

O grande sonho de ter crianças correndo pela casa; de ser chamada de mãe, e sentir a sensação da gestação, passou de sonho à utopia... Sonhos, às vezes são realisados. Carlos, por vezes, falava em adoção.
- Não! Não quero...Quero os meus! 
Eu respondia, apressada.Eu t
entava convencê-lo, a usarmos a metodologia de inseminação artificial humana. Isto eu queria, seriam filhos nossos.
- Por quê não, Carlos? Tentemos esta metodologia com o seu esperma! A criança será nossa, de fato! Quantos casos deram certo...Até mesmo, com mulheres estéreis.
Não o somos, você tem uma deficiência que pode ser tratada, resolvida em parte!
O que importa é a nossa realização; termos filhos e, sabermos, que o que construirmos, não será vão. Teremos continuidade, descendência.

Resolvemos viajar, dar uma oportunidade a nós mesmos, ao nosso casamento. Saímos em férias juntos. E, ali estávamos, rumo à fazenda.Em uma noite fria, e enluarada, em meio ao mato... ouvindo o chilrear dos pássaros; o canto das cobras; e como se fossem bebês a chorar no riacho – as rãs – doce ironia do destino, ou, profecia através da manifestação da natureza...?
Só sei, que o medo nos aconchegou; senti o hálito de Carlos, bem no meu rosto, suas mãos como que a  proteger-me, protegendo-se... No calor da fogueira, desajeitada -tanto quanto nosso casamento -;senti ternura. Descobri que existia amor, e, muito amor entre nós.

Alí, no meio do mato, às margens do riacho, em noite de lua, nos amamos, fizemos amor.Férias acumuladas...
Voltamos com sintomas estranhos e ligeiramente...Grávidos!

EstherRogessi,Conto Cotidiano:Releitura:Ligeiramente Grávidos, Recife,18/07/09

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EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 10/01/2013
Reeditado em 25/02/2013
Código do texto: T4077782
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