Muladeiro (capítulo XVIII)

____ Doutor, o corpo tá cheirando mal, coloco na geladeira ou faço o quê? - perguntou o assistente do delegado.

____ Que pergunta infeliz, homem! Parece que começou trabalhar ontem? - ralhou Irineo, que denotava pouca paciência, naquele dia.

Sem dizer mais uma palavra, Cardoso saiu do local, e ainda olhou de rabo de olho para o chefe. Fez o que havia de ser feito e voltou ao seu posto.

Na fazenda o burburinho era total. 'Cadê o pequeno Antonio?" "Israel, o que vai ser docêis, agora?" "Que crime medonho?" "Será que foi vingança?" "Pobre Teodoro, num merecia esse fim." Foram algumas das frases que Israel e Minduim escutavam, sem dar ouvidos.

Os irmãos limpavam a cozinha, mas o sangue impreguinado custava a sair da mesa e do chão. Minduim lembrou-se de que os animais ainda não tinham sido alimentados. Largou o balde e o pano, e foi ao curral dar de comer aos bichos. As galinhas corriam atrás dele, famintas e agitadas, disputando por algum farelo que pudesse cair pelo meio do caminho.

O gado ainda não estava apartado, e os bezerros empanturravam-se com o leite das vacas. Alguns cavalos, soltos pelo pasto, comiam o que conseguiam, arrancando a grama rala com a força de seus dentes.

O cenário era desolador. Tudo parecia atingido pelo crime.

____ Dizem que os animais sente as coisa, eu hein! - resmungou Minduim, sozinho, enquanto despejava o saco de ração no comedouro das vacas.

Silvana Goes
Enviado por Silvana Goes em 05/02/2013
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