Um

Eram três amantes, mas que na verdade, preferiam não titular-se. Poderiam pensar deles o que quisessem; que eram uma família, amigos, loucos, tanto faz, se quer eles um dia saberiam o que eram - Talvez possa defini-los como “Um”...

Ana, Beatriz e João formavam “Um”. Cada um com seu modo de vida e peculiaridades.

Ana era a espoleta. Ainda me lembro daquela madrugada de sábado para domingo, do qual encontrava-me esparramada nos sofás do karaokê da Liberdade, e ela entrou saltitando pelo corredor, feito uma criança num corpo escultural, ela era bela e chamou atenção dos rapazes que ali estavam. Era uma menina do interior de São Paulo, da cidade de Vargem. Seus pais acreditavam que estava fazendo faculdade de Veterinária na Mackenzie, e lhe mandavam uma boa quantia em dinheiro mensalmente. Tinha cerca de 1,75 e 23 anos, com longas pernas, seios fartos... Seus cabelos eram curtos e loiros, na altura do ombro. E seus olhos eram o que mais chamavam atenção (quando não se era um homem, claro), eram azuis, grandes e brilhavam a inocência. Era uma criança no corpo de mulher.

Logo que Ana chegou ao karaokê, se informou com a balconista e pareceu feliz com a resposta que recebera. Voltou-se para a saída e correu, pulando, comemorando algo que até hoje não pude entender ao certo o que era. Ela desceu as escadas e voltou com duas pessoas, Beatriz e João. Entre eles, Ana rodopiava entre risos e abraços nos companheiros.

Beatriz era a reservada, e de tão reservada era quase impossível notá-la, ainda mais quando perto de Ana. Como um poço de mistério que ninguém se interessava muito em desvendar, ela vivia entre loucos, sem aparentar ser uma. Trabalhava como escritora para vários jornais e sites, era o que lhe entretia. Tinha seus 1,62, com 32 anos e era extremamente magra, branca, mas disfarçava ambos com roupas pretas e largas, que não deixavam nenhuma parte do corpo a mostra. O cabelo era curto, tinha uma franja e era negro, assim como os olhos. Também havia nela olheiras profundas e roxeadas, era raro vê-la sorrir e sempre estava aos braços de João, como quem quer se esconder.

Já João era um homem maduro, com seus 51 anos, 1,85, e uma careca com poucos cabelos brancos rodeando. Tinha olhos esverdeados e era de uma doçura inimaginável. Nunca fora casado, era um médico pediatra, que sonhava com filhos que nunca teve, e tratava os pacientes como o se fossem. Até poderia ter uma criança, tinha condições, mas achava-se incapaz de cria-la meio a suas mulheres, do qual era completamente apaixonado, fazia tudo por Ana e Beatriz, suas pequenas, como as chamava. Às vezes, Ana até conseguia suprir a vontade de João de ter filhos pelo seu jeito infantil de ser. Até bonecas ela gostava de receber de presente, e obviamente, João sempre a presenteava com elas.

Cada um tinha sua própria casa; Ana morava em um apartamento na Frei Caneca, Beatriz em outro região na Paulista e João morava em uma grande casa na Aclimação. Mas apesar de morarem em casas diferentes, todos tinham as chaves um dos outros, poderiam aparecer quando ou onde desejassem.

Quando digo que são amantes, logo se imagina até certo tipo de orgia, mas não era assim. Eles se respeitavam, se abraçavam, se beijavam, mas se respeitavam acima de tudo! E se em algum momento algum deles se sentisse desconfortável com o relacionamento, não havia brigas, apenas... respeitariam. Aliás, eles nunca brigavam.

Observando e admirando ao “Um” dei-me conta que a minha concepção de amor é muito pequena diante do que ele realmente é. E a sua?

Lu A
Enviado por Lu A em 05/02/2013
Reeditado em 16/12/2015
Código do texto: T4124401
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