O NAVIO DE CASCA DE BANANA

Frágil, muito frágil era a embarcação rústica em que viajavam Dona Lurdinha e seus filhos. Em funçao, talvez, do combustível utilizado, os passageitos chamavam-na de "Gasolina". Era um barco pequeno, feito com o casco de metal e ripas de madeiras, onde haviam frestas que permitiam ver as aguas escuras do grande rio gaúcho. Na parte superior, ficavam os bancos de tábua escura, onde acomodavam-se a mãe e as crianças, naquele que seria do passeio do ano, pois iriam visitar parentes no Porto da Figueira.

As crianças, Antonio e Vitoria, dividiam um mesmo banco, assim como dividiam as poucas roupas, muitas vezes lavadas e secadas durante o sono das noites longas e geladas do inverno do sul. Era grande a dificuldade financeira da pobre viuva que juntava seus poucos recursos, para os gastos com a visita ao irmão Rodolfo. Ele morava do outro lado da cidade grande. Na outra margem do rio, que era composta de pequenos portos, desembarcavam os passageiros que se destinavam aos lugarejos pobres, onde avistavam-se muitas casas feitas de pedra e barro, erguidas em meio ao campo que na estação fria a geada transformava em um grande cobertor branco.

As crianças curtiam a viagem, eram horas de muita diversão em que os pequenos brincavam e lanchavam. O lanche composto de pão caseiro e banana era trazido por dona Lurdinha que, já tendo um certo senso ecológico, recomendava aos filhos para não jogarem na água os restos da refeição. Porém a essa ordem os pequenos não atendiam, ao contrário, atiravam as cascas de banana na agua corrente do rio, e ficavam a observar o deslize das cascas, que passavam a serem barcos, jangadas e até navios, que saindo do imaginário infantil, amarelavam, como uma esquadra, as aguas turvas e profundas do imenso rio Guaíba.

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 08/03/2013
Reeditado em 10/03/2013
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