Polca

Ela desligou o telefone e sentou-se por um momento. A ansiedade exalava por seus poros. Tudo a sua volta parecia sombrio e assustador.

Cambaleou pelo apartamento fechado, procurando sentir algum equilibrio. Aproximou-se da janela e abriu-a. Sentiu o vento gelado levantar-lhe os cabelos e percorrer-lhe o corpo. Respirou aquele ar novo e sentiu-se por um momento bem.

Lá de cima, podia ver a cidade que não dormia. Luzes acesas, carros passando, algumas pessoas perdidas na paisagem lá embaixo. Por alguns minutos, ficou observando aquilo tudo, como se meditasse. De repente, a culpa por nao estar na cama, dormindo, como qualquer outro mortal, bateu em algum canto da sua consciencia. Se afastou impaciente da janela e foi até a cozinha preparar um chá.

Enquanto colocava calmamente as folhas verdes na chaleira, seu pensamento flutuou e alcançou cem quilometros de distancia em poucos segundos. Estaria acordado a uma hora dessas? Deveria ligar ou não? Pareceria frágil por demais? Tinha lido numa revista na semana passada que as frágeis afastam os homens... e em outra, que estas pareciam mais atraentes... "ah, que se dane! Não vou ligar!"

Despejou o chá na xicara de porcelana e, sentada com as pernas sobre a cadeira, observou-o fumegar por um longo tempo.

"Acho que uma mensagem não fará mal algum."

Pulou da cadeira e agarrou o celular, como uma criança que agarra seu brinquedo favorito. A luz neon se acendeu e seus dedinhos começaram a correr pelo teclado, como quem toca uma polca animada.

O chá estava morno. Lisa tomou um gole e sentiu o liquido amargo descer por sua garganta. Fez uma careta e pegou o meleiro, que estava a poucos centimetros da sua mão.

De cima da mesa, o celular fez um barulho agudo. Lisa pegou-o displicentemente e olhou.

"Boa noite, menina. Com insônia também?"

Um sorriso radiante se abriu no seu rosto palido, corado pelo frio. Seus dedinhos voltaram a se mexer, dessa vez numa polca alegre e colorida, deslizando pela tela do telefone celular.