NÃO SE PODE É PROVOCAR

Terminado o curso primário, fiz a prova do chamado exame de admissão e já ingressei no curso ginasial - mais quatro anos. Meu pai, na ânsia de oferecer um estudo de primeira a mim, por sinal um bom aluno, matriculou-me aos onze anos no mais elitista ginásio da cidade. Só estudavam lá filhos de gente abastada ou pelo menos influentes ou importante na sociedade e/ou na política. Aí foi o "bicho". Debocharam a vontade de meus cabelos ressecados, do meu nariz, dos meus dentes maltratados e tudo o mais. Era o tal do bulling da época. Minha timidez floresceu e fez com eu me tornasse um aluno de médio para baixo.

Um dia um coleguinha chegou-se até mim, na hora do recreio, e sem mais nem menos disse: "vou te pegar lá fora". Eu era a bola da vez. Fiquei aflito e amedrontado no resto das aulas. Não sabia como lidar com aquilo. Eu não tinha amigos para me socorrer.

Na saída procurei safar-me e fui saindo assim meio escondido até que senti o empurrão, ainda no corredor no meio da turma. No portão de entrada e saída de alunos o carinha entregou seu material para algum amigo seu e levantou os punhos para mim numa posição característica dos boxeadores. Eu tremia segurando minha pasta de couro cheia de livros na mão direita. Pensei: "já que vou apanhar, vou bater também". O sangue italiano ferveu-me nas veias e inesperadamente meti a pasta na cara do sujeito que cambaleou assustado. Atirei-a no chão e parti para cima dele chorando e gritando "vou te matar, desgraçado". O bostinha recuou e seus amiguinhos tentaram segurar-me, assim como alguns da turma do "deixa disso" e eu esbravejava como um louco chorando e doido para dar-lhe uns bons tapas na cara já vermelha do agora adversário. Acabou nisso. Cada um para o seu lado e eu surpreso com a minha própria reação. Nunca mais alguém sequer ameaçou-me, pelo menos nos dois anos que estudei naquela instituição. Descobri meu poder naquele dia e aconselho: Não me provoquem, pode fazer mal à saúde (adverte o ministério).