E no final, é o MAR!

Capturou uma lágrima da face de Pedro. Segurou a sua mão e caminhou com ele até a praia. Em seguida, deixou aquela pequena gota cair sobre a água.

– Agora o mar contém o seu pranto!

Ao tentar compreender o motivo daquele simples gesto, o menino, ansioso, inquiria o avô com o olhar...e, naquele momento, uma frase veio à sua mente; algo que havia escutado quando era menor, mas que não sabia o significado: “E no final, é o MAR”.

– Pedro, você consegue retirar a sua lágrima da água?

– Não, eu acho que não...

Então, o velho Chico pegou o pequeno conta-gotas da mão do neto e, extraindo uma gotinha de mar, disse:

– Claro que não consegue! Não há quem consiga! E se você me perguntar onde está a sua lágrima, eu respondo que agora ela é mar; pertence a ele. Você pode tirar quantas gotas quiser, mas isso não faz diferença porque todas compõem a água e qualquer uma representa parte do todo.

Pedro, confuso, tentava entender o que aquilo significava, e o seu avô continuava a falar:

– Eu só pude ver esta gotinha quando eu a extraí, pois aí ela nasceu como uma unidade. Antes de estar aqui, ela já foi parte do oceano e será, novamente, mesmo que eu não a devolva agora. A única diferença é que algumas voltam mais cedo, outras mais tarde...e todas vão evaporar para formarem nuvens.

Com o olhar pousado no horizonte, o menino ouvia tudo calado e perdia-se em devaneios com a expressão já transformada pelo prenúncio de uma tristeza profunda. Ao virar-se instintivamente para trás, viu o seu pai trazendo uma caixinha. Naquele exato momento, todas as palavras do seu avô fizeram sentido e, percebendo tudo imediatamente, a pequena criança debulhou-se em pranto incontido.

E as lágrimas de Pedro agora pertenciam ao mar como as águas da chuva que, tragadas pelas entranhas da terra, brotam das nascentes dos rios e seguem em direção aos oceanos; as mesmas águas que depois de retornarem aos céus, sob a forma de nuvens brancas e puras, tornam a cair. Num ciclo interminável, transformam-se; nunca se perdem.

– Vô, a mamãe vai morar numa nuvem?

– Sim.

– Mas um dia ela vai voltar, não é?

– Vai sim...um dia as gotinhas sempre voltam, lembra?

E Pedro ficou ali, vendo o barco deixar a praia. Quando olhou para cima, avistou uma pequena quantidade de pó espalhando-se e caindo lentamente sobre o mar.

Bruno Cesar Boisson - 02/11/2014

__________________________________________________________

A TODOS QUE JÁ PARTIRAM, MAS NÃO DEIXARAM DE EXISTIR!

Bruno Cesar Boisson
Enviado por Bruno Cesar Boisson em 06/05/2013
Reeditado em 02/11/2014
Código do texto: T4276257
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.