Moisés - Parte 2

Fiquei pensando naquela triste criatura que não tinha com quem conversar, então conversava consigo mesmo; até que era uma boa saída, eu mesma, ás vezes e é claro não em voz alta, conversava comigo mesma, me achava mais interessante que muita gente por aí.... Mas voltando ao rapaz ao meu lado, curiosa em saber mais perguntei:

- Como se chama?

- Moisés.

Respondeu de forma automática, não demonstrou curiosidade de saber meu nome, por isso não revelei.

- Moisés, como você está se virando sozinho agora?

- Não tô. Não tem nadinha lá em casa. Nem comida, nem dinheiro... Por isso saí. Você sabe como arranjar comida?

Perguntou me olhando ansiosamente. Pude notar que seus olhos eram castanhos esverdeados, com longos e grossos cílios, parecia os olhos de uma criança.

- Claro que sei.

Disse eu com cautela, pensando o que faria a seguir, não poderia levá-lo para casa, morava sozinha e com certeza não levaria um rapaz que acabara de conhecer, e naquelas condições mentais, para lá. Não poderia também virar as costas a uma pessoa faminta.

-Vamos até uma padaria que te pago um lanche.

Moisés assentiu com a cabeça como se fosse uma criança concordando com sua mãe. Levantamos e ele me seguiu.

Chegamos a uma padaria ali perto, entramos e Moisés parece maravilhado com o que vê, mas assim mesmo, não sai de perto de mim, me segue de perto, com medo que eu desapareça e ele fique com fome.

-Vamos sentar nessa mesa e ver o que vamos comer.

Moisés sentou-se depressa e parecia estar morrendo de fome. Chamei a mocinha que atendia e pedi um café e um pão de queijo pra mim e perguntei pra ele o que iria querer.

- Qualquer coisa que seja bem gostosa!

Falou de cabeça baixa e em tom envergonhado.

- Traz pra ele um pedaço de empadão e um suco de laranja.

A mocinha foi buscar o pedido enquanto ele me olhava com olhos brilhantes de ansiedade.

- Quantos anos você tem?

- Vinte e dois.

- E quem é seu pai? Dona Rosário não era casada, era?

- Não. Ela disse que não tenho pai.

Fiquei quieta pensando, a cidade toda respeitava muito aquela senhora solteira, correta, beata que sempre fora um modelo de decência e decoro. Agora, converso com seu filho e não acredito que uma mulher assim tenha enganado a sociedade toda por vinte e dois anos.

Os pedidos chegaram e Moisés devorou seu empadão que parecia mais uma refeição completa pelo tamanho e a qualidade do recheio. Enquanto eu comia meu pão de queijo ele comeu três pedaços de empadão e três copos de suco. Paguei e saímos.

Não sabia o que faria a seguir, mandava ele de volta pra casa, procurava o serviço social? Ele continuava me seguindo. Resolvi que o deixaria em casa e no dia seguinte veria o que ia fazer, o certo é que não deixaria esse pobre rapaz sozinho a própria sorte.

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 17/05/2013
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