Rainhas das estradas
Vitória da Conquista, Posto Alvorada. A grande caçada se concentra ali. A grande parada quase obrigatória de quase todos os caminhoneiros para descansar.
Rosinha é uma mulher lindíssima e forte, mistura do preto com uma branca lhe deu a cobiçada cor. Com treze anos decidiu sua sorte, começaria ali. Suas colegas foram seu jornal, nenhuma delas se deu mal, pois exibiam suas ricas bolsas e toda noite buscavam seus salários sem muito esforço; tantos caminhoneiros com dinheiro no bolso, tanta atividade que às vezes nem dava tempo de lavar a xoxota.
Rosinha me contou que seu primeiro filho foi arranjado ali.
- Não me lembro da cara do pai. Já o segundo estava muito escuro, não me lembro também. Agora já resolvi este estorvo, fui operada, porque quando ficava embuchada só ficava cansada e sem nenhum vintém.
Entrevistei:
- Tem família?
- Tenho, minha mãe foi para São Paulo e nunca mais notícias deu. Minha avó, quase cega, anda muito doente, mas cria meus dois filhos. Meu pai morreu. Hoje está um dia de cão, já rodei quase a noite toda e nada de freguês, nem algum careca ou algum barrigudo. Veja, nem aquele “de noite” me quis! Até parece que esta micro-saia e este belo par de pernas não chamam mais a atenção. Sei que sou muito bonitinha, um tesão. Aguarde-me aqui porque chegou um maluco muito adoidado que pode ser aquele que vai me tirar do sufoco. Dia danado! Até parece que todo mundo tirou férias. Gastei todo o meu dinheiro ontem numa farra e hoje um de meus filhos amanheceu doente.
- Mas, Rosinha, e se um dia você adoecer?
- Ui, nunca tinha pensado nisto, como é seu nome mesmo? Já me esqueci.
- Maurão. Olha, Rosinha, tome estes vinte paus e vá depressa comprar remédio para seu filho.
- Mas a gente ainda não fez nada! Vamos ande logo para dentro deste caminhão.
- Não, Rosinha, nada disso, fiz isso pela nossa amizade.
- Maurão, você deve ter algum problema, ninguém faz nada de graça.
- Você quase acertou Rosinha mas eu não tenho nenhum problema, eu tenho religião.