CADÊ VOCÊ COMPAIXÃO?

Compromissos do dia tiraram-me mais cedo da cama. Ainda bem que o frio está dizendo adeus aos cobertores e levando consigo minha raiva do despertador.

Resolvidas algumas questões, estava a retornar com passos rápidos para casa, quando um fato chamou minha atenção.

Vi uma criança de, aproximadamente oito anos, dentro de um container, a selecionar o lixo ali contido e entregar pequenas porções dele para sua mãe. Aquela visão deprimente fez-me agradecer a Deus, por tudo que me dá.

Dei mais alguns passos e olhei para trás. O que observei, foi demais para mim. Naquele mesmo depósito, um idoso e um jovem, estavam a disputar o que restara do lixo. Voltei e me aproximei dos dois. Saudei-os com um vigoroso bom dia!

Assustados e demonstrando medo, somente o mais velho me olhou e deu um sorriso amarelo. Perguntei se estavam catando para vender. Ambos ficaram mudos. Ao me retirar, por saber que não queriam conversa, o de menos idade, levantou a cabeça, ergueu o braço e abriu a mão. Senti que ele esperava que eu fizesse o mesmo e tocasse sua mão (como se faz, quando se diz alguma coisa que o outro concorda). Imediatamente, encostei minha mão na dele. Seu sorriso sem dentes continha uma alegria indecifrável! Por alguns segundos, permanecemos naquela posição. Ao me ver retribuindo seu largo sorriso, ele baixou o braço e continuou a remexer o lixo.

Naquela pequenina fração de tempo, eu havia oferecido àquele pobre ser, o que ele esperava receber de mim – dignidade, respeito e amor, sentimentos apodrecidos na sociedade em que vivemos, assim como o cerume, ali colado em suas mãos.

Pedi que me esperassem. Quase a correr fui em casa e, em duas sacolas, coloquei o que me foi possível. Voltei na velocidade de um raio, mas o local já estava vazio. Olhei para todos os lados e não os vi. Concluí que eles não haviam acreditado em mim. Por que acreditar? Na condição sub-humana em que se encontram, já devem ter perdido a conta de promessas não cumpridas. A rejeição que a sociedade lhes oferece, através do descaso, do olhar enojado e do medo que suas figuras maltrapilhas lhe transmite, já os anestesiaram para o sofrimento e lhes deram o conforto da aceitação.

Mais tarde, ao ver a multidão que cercava o Papa Francisco, pedi a Deus que permita, ao seu maior representante aqui na terra, injetar nos duros corações, a compaixão e a caridade perdidas. Que ele consiga limpar das mentes humanas, por este mundo a fora, todo o egoísmo e desamor reinantes. Afinal, embaixo de sete palmos de terra todos somos iguais!!!

Ercy Fortes
Enviado por Ercy Fortes em 25/07/2013
Código do texto: T4403801
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