Renascimento

O que ela faria agora? Seu marido, companheiro de tantos anos, estava morto após longa luta contra o câncer.

Percorrendo todos os cômodos da casa, ela pensou em como a solidão lhe pesava. Os filhos haviam crescido e alçado seus voos, deixando-a e ao marido, que tiveram que reaprender a viver a dois após anos dividindo entre si os encargos de criar os filhos.

-O que sobra para uma velha como eu, meu querido? Agora que você se foi, estou aqui, sozinha e inútil! Nossos filhos já não precisam de mim, não tenho o que fazer!

Foi à cozinha e preparou um café, pensando nas tardes que o marido e ela passavam juntos, nos passeios na praça e nas noites diante da televisão.

-Sessenta e cinco anos! Quanto tempo ainda tenho até me juntar a você?

Bebendo o café, perguntava-se:

-O que farei?

Pensou que não tinha vontade de ficar em casa, vendo todas as suas antigas lembranças dançarem diante de seus olhos e saiu para andar um pouco. Andando, sentiu o ar acariciando seu rosto e sorriu levemente.

Continuou andando, vendo as casas com seus pequenos jardins, encontrando as pessoas conhecidas que a cumprimentavam e admirando as árvores nas calçadas, os pássaros que cantavam e voavam e o sol estendendo seus longos e cálidos raios no fim da tarde. Ficou surpresa ao admitir para si mesma que toda a dor não lhe tirara a capacidade de apreciar a beleza do mundo.

-Assim é a vida, meu querido marido. Ela sempre vai adiante.

Quanto tempo caminhou? Não sabia, mas isso não lhe importava. Sentia-se renascida, viva.

Voltou para casa, dizendo a si mesma:

-Eis o que farei: continuarei vivendo.