CUIDADO COM SEUS DESEJOS

Os minutos passam lentamente. Pra quem espera cinco minutos são cinquenta, enquanto cinquenta pra quem se diverte voltam a ser os cinco.

De início era apenas uma brincadeira.

Qual seria o mais forte?

Qual seria o mais esperto?

Mas que nada, o fato é que ambos não sabiam no que estavam se metendo.

Aquela mulher sempre foi perigosa. Toda prosa divertia-se com os homens. Na sua dependência química por sentimentos, vampirizava até os de bom senso. Alta, linda, olhos verdes, cabelos longos e brilhantes, corpo escultural, lindos seios, e entre os seus trejeitos, o gene da maldade.

Resolvera dar uma chance aos pobres infortunados. Porém, aos dois ao mesmo tempo, exigindo segredo.

Eram amigos, de longa data, de várias estórias. Um era disléxico, o outro era estrábico, como poderiam conquistá-la? Eram feios e nem sequer tinham dinheiro. Porém, de certo dia pra frente estavam radiantes, infantes, cada qual com seu motivo, que na verdade era o mesmo.

Ambos a queriam, ambos a serviam. Em sua beleza demoníaca, quantos já sucumbiram? Elevado número elevado à grande potência eram suas vítimas, onde ela simplesmente matava a dignidade, o respeito e o amor próprio deles. No fundo, grandes generais de seu mundo chorando como bebês.

É, a força da mulher...

Porém um dia se viram de frente, e se viram no mesmo buraco sem fundo do amor não correspondido. Totalmente inimigos a partir de então. Mais vítimas da rejeição? Não, um deles conseguiria o que queria, sem pensar nas consequências.

Num, a aparência foi mudando, nas atitudes cada vez mais se afundando, e se camuflando cada vez mais, absorvido pela falta de controle. No outro, despertou-se a ira, a mágoa, o vício.

Num suplício de causar insônia, atirou-se porta a fora, e embora soubesse o que é errado, seu destino estava selado.

Os minutos passam lentamente. Pra quem espera cinco minutos são cinquenta.

À espreita na porta da casa dela, olhos embaçados, coração a pulsar no ouvido, acelerado, descompassado, chegou a pensar que pararia de bater a qualquer minuto; ainda bem que os minutos passam lentamente.

A casa parecia vazia, luzes apagadas. Ofegante, esperava, iria acabar com tudo isso de qualquer jeito. Iria tentar salvar a sua vida destruindo a vadia e o amigo, ou então se destruiria de vez, mas era covarde (ou forte) demais para se matar. Iria eliminar quem chegasse primeiro, ele ou ela, ainda estava se decidindo.

Depois de um breve devaneio, parou, ao ouvir o barulho. Carro parando, a dama do mal descendo, ficou imóvel. Desce ela, desce outro sujeito, grande, de paletó. Espera o momento certo, que não chega.

O amigo aparece ao seu lado, apavorado, branco como neve, não disse nada. Ambos olharam a cena como uma eternidade, sem piscar. Atrás daquela árvore, viram o casal entrando, sorrindo felizes, dançando.

Soluçando, o branco desaba de vez. O outro, numa mistura de ódio e dor sente um certo alívio por não ser o amigo o escolhido. Este, em seu total abatimento não consegue nem odiar, só se lembrava das promessas doces da mulher que acabara de sumir porta a dentro.

O raivoso também recebera promessas, que caíram por terra na conversa com o amigo horas antes. Agora, ambos se vêem destruídos pelo próprio sentimento da angústia, enquanto outro se delicia em seu lugar.

De repente outro carro chega, e outro, e mais um terceiro. Os homens descem, se olham, mas não dizem nada. De cara amarrada, põem a porta abaixo. Seriam outros pretendentes?

Ao ouvir o primeiro estampido, pelo menos mais cinquenta foram ouvidos a seguir, como em um filme de guerra. Balas saem pelas janelas e pela porta aberta. Uma chegou até a árvore que protegia os dois observadores. Depois da tormenta, o silêncio. Saem da casa os quatro homens, inclusive o de paletó que entrara sorridente há apenas alguns minutos. Saem num misto de fúria e alegria, quando, de longe, os escondidos conseguem ouvir:

-“Essa aí não contamina mais ninguém!”

E saem em disparada, cada um para um lado, cantando os pneus dos carros.

Enquanto se refazem do que acabaram de presenciar e tentam processar o que acabou de acontecer, a polícia chega como um raio. Os dois, ficaram no mesmo lugar, completamente inertes. Após serem perguntados duas vezes pelo policial o que se passara, sem nem ouvirem a pergunta, de susto, um diz rapidamente:

-“Meu amigo aqui não fez nada!!!”

Ao que o outro diz:

-“O meu amigo é que não fez!!!”

E saem juntos, escoltados, aliviados, vão abraçados para a viatura.

-“Ainda bem que não somos deuses gregos meu amigo!”, diz o primeiro.

-“Nem milionários meu irmão, nem milionários!”, responde o segundo.

Mais um abraço, sirene ligada, vão felizes para a delegacia.

Mais tarde, num boteco, brindam à amizade...

Marcelo Resende
Enviado por Marcelo Resende em 12/04/2007
Código do texto: T447006