O Assalto

Era um dia como outro qualquer. Lá pelas três horas da tarde, Lena aproveitou para ir até a panificadora comprar os ingredientes para o lanche da noite. Como era o seu costume, pegou uma bolsinha preta de pano, contendo alguns trocados e saiu. O estabelecimento está a três quadras de nossa casa. Ela levava a bolsinha na mão, absorta em seus pensamentos, completamente desligada do que se passava a sua volta. O sol da tarde brilhava o dia seguia como deveria ser.

Na rua, carros transitavam com seus ruídos característicos. Pessoas apressadas passavam pela calçada, conversando. E ela continuava andando, os olhos perdidos na imensidão da rua, seus ouvidos fechados para o barulho externo, sua mente distante, bem distante.

De repente, um rapaz, com pouco mais que quinze anos, jogou a bicicleta em sua direção e freou bruscamente, barrando-lhe a passagem e ao mesmo tempo, dizendo:

-Moça! É um assalto!

Aquela voz em tom agressivo tirou-a do mundo distraído em que se encontrava. Perplexa não disse nada. E como ela demorava a manifestar qualquer reação, o assaltante repetiu em voz alta e enérgica a abordagem:

- Moça! É um assalto!

Tremula e sem saber o que fazer ela ficou parada. Ele continuou falando sem parar: é um assalto! Aí,ela levantou a cabeça e fitou o rosto ameaçador do rapazote. Aquele projeto de bandido se apresentava com a mão no bolso, como se estivesse apontando-lhe uma arma de fogo. Sem dúvida não queria chamar a atenção exibindo a arma e, além disso, percebeu que ela não reagia.

A ordem do assaltante deixou seu coração acelerado. Sentia medo. Mas aos poucos foi tomando coragem, e assumindo o autocontrole. Então, decidiu que tinha que agir de acordo com a situação, sem se deixar levar pelo medo e contrariá-lo. Olhou para ele, e como se estivesse acostumada a assaltos, estendeu a mão e entregou-lhe a bolsinha dizendo:

— Só tenho isso!

O assaltante abriu a bolsinha. Dentro havia apenas cinco reais e algumas moedas, nada mais. Ela quase morreu de susto quando o rapaz de repente a olhou, pela primeira. E ficou ainda mais assustada, quando o bandido estendeu-lhe a mão e devolveu-lhe a grana decepcionado:

- Ah, Toma, vai comprar suas coisinhas!

Ficou boquiaberta. Não soube o que responder.Era difícil acreditar naquilo! Ela agarrou a bolsinha, deu alguns passos rápidos, e com as pernas tremendo parou. O rapaz pedalou a bicicleta e foi embora. Ela o seguiu com os olhos até vê-lo desaparecer na esquina. Depois, foi andando pela calçada até chegar à padaria onde se refez do susto.

Passado algum tempo, algumas perguntas ainda martelam sua cabeça: O que levou aquele bandido a desistir do assalto e lhe devolver a bolsinha? Será que ele teve pena dela por levar aquelas mixarias? Seria um louco? Pode ser uma mistura de tudo isto. O fato é que nunca ouvi uma história de assalto igual a esta.