O velho e o cão

O velho homem estava desolado, pensando em como vivia isolado no meio da própria família.

-Ora, só porque sou velho, minha opinião não tem mais valor! Meus filhos não me ouvem, como se eu tivesse ficado estúpido só porque fiquei velho!Não era assim nos tempos do meu avô! No tempo dele, todo mundo ouvia e respeitava os mais velhos! Hoje, triste de quem envelhece! Os filhos nos tratam como se nós fôssemos um peso nas suas vidas! Eu sou gente, não um objeto descartável! Deve ser isso que os filhos lamentam: não podem se livrar de nós como se livram das coisas imprestáveis!

Para esquecer um pouco suas tristezas, o velho ia passar as tardes na praça com os amigos. Jogavam cartas ou dominó e falavam de como as pessoas mais novas maltratavam as mais velhas. Seu melhor amigo dizia:

-Minha filha é doida que eu venda a casa e vá para um asilo!

-Esses filhos de hoje não nos amam! Nós trabalhamos e nos sacrificamos por eles e, quando envelhecemos, querem a gente longe! apoiou outro.

-A indiferença dos meus filhos me faz sentir mais saudade da minha querida. suspirava o velho, pensando no que não daria para ter um afeto genuino em sua vida.

Um dia, andando, viu que havia uma Feira de Adoção de animais abandonados no seu bairro. Sempre gostara de animais e resolveu ver de perto. Havia muitos cães e gatos. Foi observando um a um até que um pequeno cão malhado chamou sua atenção.

-Olá, amigo! Como vai?

O animal se agitou, lambendo sua mão. Tinha olhos bonitos e ávidos por amizade.

-Gostou dele? perguntou uma moça.

-Sim, quero levá-lo.

Mais tarde, o filho e a nora reclamaram:

-Pai, como traz esse saco de pulgas para casa?

-Esse cão era de rua! Deve ter um monte de doença!

-Calem-se os dois! Ele e eu estávamos sozinhos e, agora, temos um ao outro!

À noite, ele escutou a nora dizer:

-Seu pai está com Alzheimer?

Conteve o riso, falando baixo:

-Não, sua jararaca!

O cão logo se tornou a sua sombra. Saia para passear com ele todas as manhãs e o levava à praça às tardes. Seus amigos não demoraram a se afeiçoar ao animal. O melhor amigo perguntou:

-Como está sua vida agora?

-A jararaca da minha nora reclama, mas eu não ligo! Ele é minha nova alegria! Quer estar sempre comigo, não se cansa de mim e me dá um afeto genuino!

-É, animais não são como as pessoas: não discriminam os velhos.

Contentes, voltaram a jogar. O cão permaneceu deitado aos pés do dono.