Um nome para amar

Escreveu na areia um nome para amar... Mas, assim como o mar, se encontrava em meio a uma crise permanente. Quanto conflito teria que enfrentar até que, finalmente, encontrasse a paz?

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Agora, o mais importante: recobrar a serenidade, trabalhar com empenho para sanar as suas dívidas. Não seria nenhum bicho-de-sete-cabeças, trabalhar, apenas trabalhar, todos os dias, pegar horas extras, vender muito, pegar todas aquelas comissões e entrar, triunfante, no escritório do agiota com o dinheiro estufando o bolso, está aqui, seu filho da puta, estamos quites.

No quarto, esvaziou os bolsos: trinta reais e umas moedas. Estavam faltando, exatamente, quatro mil, setecentos e trinta reais. Colocou os trinta reais dentro de uma fronha, no armário, e saiu.

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Que nada! Essa é uma empreitada destinada ao fracasso. Não conseguiria o dinheiro. Pedir outro empréstimo para pagar seria a única solução. “Tenho que encontrar outro agiota” pensou, “rolar a dívida”.

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Escreveu na areia um nome para amar. Veio o mar e apagou. Sentia-se só e cheia de desesperança. Há quantos anos viera para a cidade grande cheia de vontade de viver. Trabalha como doméstica, as mãos e os joelhos com calos de tanto trabalhar e rezar. Agora via no espelho um rosto murcho, um olhar sem brilho. Tantos anos trabalhando, incessantemente para nada. Mantinha-se, enviava um dinheiro para os parentes no interior, poupava o resto e mais nada. Quinze anos. Carteira assinada. Férias remuneradas. E mais nada...

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Pensou que não seria nada demais se roubasse aquele dinheiro. O mundo estava em dívida com ele. Seria a cobrança. Mas não sabia roubar. Não teria engenho suficiente para planejar um roubo. E não era dado a violência. Não se via com uma arma na mão tomando a carteira de alguém na rua. Escolher uma pessoa aleatoriamente segui-la e assalta-la, como um animal predador. Não era um leão. Era um cervo medroso. O certo seria assaltar o próprio agiota. Aí sim valeria a pena. Planejar, cuidadosamente a ação e executar. Fazia fantasias a respeito. Mas nunca teve iniciativa. O máximo que fez foi visitar o escritório do agiota com o intuito de observa-lo. Não ficou nem cinco minutos ali. Saiu após ser ameaçado pelo homenzinho. "Uma semana para pagar. Senão vais sofrer as conseqüências".

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À noite sozinho, na praia. Olhou as luzes que se refletiam n’água. Seria perfeito, sair nadando para nunca mais voltar. Nadar até o infinito, ou encontrar uma ilha virgem, com coqueiros e fontes d’água limpas e frescas. Ali sozinho ajeitaria a sua vida. Faria uma cabana de palha, pescaria, viveria em paz sem necessidade de dinheiro. “Vai sonhando, criatura. Afinal, nem nadar eu sei”.

Andou pela praia até encontra-la sentada. “Uma aparição” pensou. Na semi-obscuridade achou-a linda. Sentou-se ao seu lado. E ela perguntou:

- Qual é o seu nome?

- José – ele disse.

Com um graveto que tinha à mão, ela escreveu na areia:

“José”.