Brenton e Tommy

Coca no chão. E pra tirar o grude? Não tinha álcool e água sanitária não adiantava. Brenton, então, com as mãos meladas, resolveu repousar. O dia fora infernal: a praça incendiada, a prisão de poucas horas, enfim, uma luta: ser black bloc já o enjoava. O brado da juventude não resolvera muita coisa além dos 0,20 centavos subtraídos dos preços dos transportes. Mas sentia-se forte. A mídia propalava que tudo mudava mui rapidamente. Não ligaria mais a TV nem acessaria o Face, mas o que mais? Desatualizar-se-ia? Viera de metrô deste último ataque e também se concentrou no celular para não destoar da maioria e não parecer careta ou um doente. Lembrou-se de Tommy, o homossexual que conhecera no início da noite e que lhe beijara de forma espontânea. Como pudera sentir atração por alguém dessa condição, mas isso devia fazer parte. Tommy prometera ligar, e não estava nos planos de Brenton se envolver com alguém, mas o homossexual o atraíra, ele reconhecia, o atraíra demais. Lavou as mãos melecadas e foi se deitar. Precisava muito se capitalizar, e agora era hora (vem, vamos embora, que esperar não é saber!!!), mesmo não sabendo como.

O dia amanheceu tranquilo, e era chique dizer, pra quem quer que fosse, e ninguém era estranho mais desde que..., a hora em que se acordava. Quando mais cedo menos vagal e mais exemplar. Dar o exemplo estava em voga, era o que a sociedade demandava. Brentou acordou emocionado, pois o despertador tocara uma música que o fez pensar na vida linda:

Você é assim

um sonho pra mim... ... ...

Estava no banho quando o celular soou. Brenton saiu do chuveiro, mas a água continuou a cair, a válvula estava dura. Recorreu ao registro e atendeu o celular. Claro que sabia quem era, aquela FOFURA do Tommy.

- Oi, querido - disse a voz do outro lado.

- É o Tommy, né? E aí, cara? A gente se falou, eu tava de máscara hehe.

- Preciso te dar um abraço e...

- Sem tapas hehe.

- Olha, escuta, te achei no face, gatinho.

- Tô ligado. Hoje não vai dar pra gente se falar, minha mina e eu vamos até o shopping e...

- Vão às compras. Adooooooooooooro. Very nice. E eu tô indo pra Academia.

Após 2 meses, Brenton e Tommy estavam juntos, e pretendiam se casar. Os ataques haviam evoluído muito: quebrava-se um vidro com mais facilidade. Mas Brenton largara a vida de insurgente, o que era uma "pena" para as autoridades menos prosélitas do que simpaticíssimas. Dar o exemplo era um dever do cidadão, não mais das autoridades e das celebridades, e agora qualquer um tinha potencial para ser corrupto. Brenton perdera todos os preconceitos depois da união com o homossexual e sentia-se muito liberal. Foi a partir deles e de muitas outras pessoas especiais que a perfeição começou a se expandir pela Terra.

Sigmund Blas
Enviado por Sigmund Blas em 23/10/2013
Reeditado em 23/10/2013
Código do texto: T4538600
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