DESENCONTRO

Sentada, em frente ao mar, olhava sem ver, o sol que se mesclava de rosa e violeta.Tudo ao redor falava de beleza; as montanhas que se tornavam arroxeadas pelo entardecer, as partículas de luz que cintilavam nas águas, os barcos que retornavam ao caís...No entanto para Júlia, nada tinha importância. Perdida nos próprios pensamentos via desfilar toda sua euforia das últimas horas.Na noite anterior recebera um telefonema de Mauricio, lhe convidando para almoçar, no dia seguinte, pois precisava falar algo importante...Ela não dormira direito imaginando que finalmente ele percebera o seu amor. Levantou duas horas antes do normal para ir ao salão, caprichou nas unhas, lavou e escovou cabelos ao sair entrou numa loja e comprou uma blusa mais feminina, pois normalmente, só andava de camiseta e calça jeans, queria estar bonita para a ocasião. Ligou para o trabalho e contou uma história triste, para o chefe que a liberou aquele dia. Tudo estava dando certo, pensou

Conhecera Mauricio em casa de amigos comuns e desde então conquista-lo se tornou obsessão.Não que isto fosse apenas um capricho, na verdade foi amor a primeira vista, coisa em que ela nem acreditava.O fato é que Mauricio estava namorando firme outra pessoa, mesmo assim ela não perdeu as esperanças, pois a cada vez que se encontravam descobria sutilezas da alma, comuns aos dois.Gostavam das mesmas músicas, dos mesmos autores, era aquilo que o vulgo nomeia, “almas gêmeas”. Todos ao redor percebiam os olhares incendiados, um pelo outro, porém só Mauricio não percebia...Era um tonto...

Ele contara para Júlia, que o romance havia acabado, ela ouvira tudo em estado de euforia mas o rosto não denunciava esta alegria, conseguira até manifestar uma certa tristeza...Sufocava a raiva e o ciúme quando ele falava da “outra”, ouvia todas as histórias e ainda o consolava. Tentava faze-lo interessar-se por projetos comuns, coisa que não era difícil e isto os aproximava ainda mais.Havia ainda os longos silêncios, as horas de riso solto e de esperanças comuns...

Finalmente, ele chegou ao restaurante, ela já o aguardava sentada num lugar, em que a luz do sol fazia que seus olhos tivessem um tom dourado...Tudo fora premeditado. Encaminhou-se sorrindo para ela, beijou-a na face – olá, demorei muito?- Não - mentiu ela. Pediu um drinque e ela percebeu que ele estava nervoso. – Bom Júlia eu nem sei como começar, afinal, sempre fomos tão amigos. Bom – gaguejou – é que eu estou apaixonado,- ela muda, emocionada – Estou meio sem jeito, até poucos dias eu vivia atormentando você com minhas crises...- ela mais animada – a vida é assim mesmo. Pensou, fala logo senão eu tenho um troço. – Bom – ele recomeçou – Lembra da Clarinha? – Lembro – o coração já apertando. – Pois é, descobri que ‘tou louco por ela. Começamos a namorar tem uma semana e eu estava doido para lhe contar.

Ela não perdeu a pose, pediu o prato mais caro e comeu como uma leoa.

Despediram-se e ela ainda lhe desejou felicidades.

Jacy Ferino

04/2007