UM ADULTO INOCENTE
 
     Este caso aconteceu na fazenda que eu morava, pelo final da década de sessenta e início da de setenta.
       Zezão como era conhecido morava com sua mãe e um irmão mais velho solteiro que tomava conta dos dois, eram vizinhos de uma irmã casada, moravam nas casas que eram chamada de parede e meia (duas casas num grupo só separada por uma parede apenas).
   Ele tinha uma deficiência mental não sei dizer qual, sei que necessitava de alguns cuidados especiais, tinha dificuldade em falar algumas palavras, não era capaz de responder pelos seus atos mas era na verdade inocente não representava perigo a ninguém, não era violento, era amigo de quem ele gostava e quem não gostava apenas ignorava-os. O que às vezes acontecia era que algumas pessoas por maldade o provocava, mas ele não ficava bravo e sim triste.
     Zezão não gostava que falasse que ele era folgado, então de vez em quando um maldoso falava, “o Zezão tá folgado heim”. Ele ficava muito chateado e falava “da vontade de pega uma coda e enfoca” ele queria dizer que dava vontade de pegar uma corda em enforcar-se.
     Ajudava as pessoas se tivesse alguma tarefa a fazer, serviço como mexer na horta, limpar o quintal ou qualquer outra coisa, se ele gostasse da pessoa, senão não chegava nem perto.
     Zezão gostava particularmente do nosso vizinho, estava sempre por ali conversando com ele ou mexendo em alguma coisa no seu quintal.
   A família cuidava dele mais por obrigação que por amor, e aconteceu que seu irmão teve um mal súbito e morreu ficando ele e sua mãe idosa aos cuidados da irmã casada.
     Esta e o marido não tiveram muita paciência para continuar com os cuidados procuraram um jeito de livrarem-se do problema, foram a uma cidade vizinha e acertaram com uma espécie de asilo onde iriam interná-lo.
     Se a família falasse em levá-lo embora não concordaria em deixar a vida livre que tinha na fazenda para viver preso num asilo. E como ele andava muito poderia não encontrá-lo em casa e se o chamasse desconfiaria de alguma coisa e poderia fugir, ai tiveram a idéia de armar uma traição para ele.
    Conversaram com o amigo que Zezão estimava, combinaram para que pedisse sua ajuda nos trabalhos da horta, este mesmo contrariado acabou aceitando por insistência da família.
     Assim Zezão manteve-se ocupado no quintal vários dias capinando e cavando no local, até que chegaram de surpresa e o levaram a força embora.
    Foi uma cena muito triste de se ver, aquele pobre homem sendo levado contra sua vontade embora de sua casa, de sua família e dos amigos. O internaram e depois de um tempo foram embora da fazenda para um local bem distante, não sei se mantinham algum contato com ele no asilo.
   Passado bastante tempo num sábado a tarde chega Zezão na fazenda, conseguiu autorização para passar um final de semana fora e foi à fazenda onde já não tinha mais ninguém da família morando, visitar aqueles que ele estimava.
     Zezão foi as casas dos conhecidos uma a uma, depois foi na minha casa ficou conversando com meu pai e acabou lá pousando, no outro dia a tarde foi embora para o asilo, agora já acostumado com aquela vida, nunca mais soubemos notícias dele.
   Aquela visita de Zezão foi importante para as pessoas que os queriam bem, pois o viram bem cuidado e até tinha melhorado a sua maneira de relacionar-se com as pessoas, mas fico pensando o quanto ele deve ter sofrido com a separação e o abandono da família.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 16/11/2013
Reeditado em 03/02/2020
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