UM SONHO REAL

Fui dormir como todas as noites e tive sonhos estranhos, parecia que alguém ia viajar, mas pela manhã quando acordei percebi que tudo estava diferente.

No começo eles brigavam de vez em quando depois faziam as pazes e tudo ficava bem; com o tempo as brigas eram maiores e quase diariamente. Pior: eles já não eram os mesmos, não se entendiam e nem se falavam direito.

A casa foi perdendo o riso, as cores, o cheiro; a vida perdendo espaço, eles não tinham mais tempo pra nada além de trabalhar e discutir.

Algo ali não estava mais funcionando como antes, então ao acordar naquela manhã percebi um vazio: o amor havia acabado e com ele o casamento dos meus pais.

Aquilo era novo e triste, eu gostava de coisas novas porque me deixavam alegre, mas aprendi naquele dia que nem toda novidade deixa a gente feliz.

No fundo criança sabe que os pais não estão felizes como antes, só que acredita que adulto dá jeito em tudo, então criança pensa que eles vão resolver os problemas e vai ficar tudo bem e todos continuarão felizes.

Só que adultos resolvem as coisas de um jeito diferente, até surpreendente; foi quando pela primeira vez ouvi a palavra: separação.

Ninguém te pergunta se você quer a tal separação. Eles resolvem tudo e pronto; você terá duas casas agora. E você pensa: “Não há nada de errado com morar em uma casa, eu não quero ter duas”. É quando percebe que seu sonho era um pesadelo real e ninguém foi viajar e sim embora.

Dá vontade de gritar: “Não, volta aqui!” E eu?

Só que não adianta chantagem. Você pode ficar doente, revoltado, suas notas podem despencar; tudo que você fizer não vai juntar eles. Um filho “problema” não é solução para casamento nenhum. Eles podem brigar ainda mais; um acusando ao outro sobre quem educou você assim tão mal.

Aprenda; o amor entre eles acabou, mas o amor deles por você continua. Eles deixam de ser marido e mulher, mas nunca deixam de ser pai e mãe e isso é bom.

Aquela manhã foi bem ruim, acho que todos nós choramos. Os outros dias também foram estranhos, sem cor, cheiro ou gosto.

Parece que a gente nunca mais vai ver aquele que saiu de casa, no meu caso foi meu pai que nos deixou, mas já ouvi dizer que mães também saem de casa.

Sabe, é verdade aquilo que dizem sobre o tempo. Ele passa e dá jeito em tudo.

Um dia meus pais pararam de discutir e chegaram num acordo amigável, continuaram separados, mas eu podia ir de uma casa para outra sem ninguém brigar e até me acostumei em ter duas casas.

Hoje somos felizes assim separados, mas meio junto.

A vida de adulto é complicada, mas aos poucos tudo se acertou.

Meu pai tem outro emprego, trabalha menos, ganha melhor; ele também não está mais sozinho. No começo senti ciúme, mas percebi que ele está feliz, então tudo bem.

Eu e minha mãe aprendemos a fazer um monte de coisas junto e até ela está diferente, sai com umas amigas e volta feliz. Não sei, mas algo me diz que logo a família aumenta, acho que ela conheceu alguém; eu já não gosto dele. rsrsrs. Gosto da minha mãe, vou sentir ciúme eu sei, mas também sei que se ela estiver feliz, eu vou tentar não atrapalhar.

E depois vai que meu pai, ou minha mãe, ou os dois assim separados resolvem me dar irmãos, já pensou? Melhor começar a entender a vida e deixar que o tempo resolva tudo e me ajude também com essa coisa de ciúme. rsrsrs.

Sabe; essa tal separação até que ensina a gente um montão de coisas importantes a maior delas é que ser feliz, não é uma questão de estar junto ou separado e sim a compreensão de se aquilo está funcionando ou não.

No caso da minha família funcionamos melhor agora: pais separados, duas casas e eu me preparando e aprendendo a vida de adulto.

Elaine Spani

(20/12/2013)

ELAINE SPANI
Enviado por ELAINE SPANI em 20/12/2013
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