NO AMBIENTALISMO: no mês de janeiro, Pablito, uma criança de três anos de idade, da cidade mexicana de Matamoros, conseguiu uma fórmula para que os peixes nunca mais morram dentro de um aquário. Fazendo a demonstração para uma multidão de parentes e amigos, ele devolveu para o rio todos os quatro peixinhos que havia na casa dele, dentro do próprio aquário que ele tinha ganhado do irmão mais velho. Simples. Recebeu uma espécie de nobel, em forma de aplausos e abraços da turma toda.
 
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EM EDUCAÇÃO: no mês de fevereiro, um acordo na cidade venezuelana de San Antonio de los Altos, possibilitou que, pelo primeiro ano, todas as doze crianças da favela mais pobre da periferia pudessem estudar. Os pais acertaram com a diretoria da escola, situada no bairro Los Castores, que seis das crianças estudassem pela manhã e que as outras seis estudassem pela tarde, repetindo entre eles os mesmos fardamentos e materiais escolares, o que era o impeditivo até então para a freqüência completa. O acordo foi noticiado até mesmo num serviço de alto-falante comunitário.
 
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NO COMBATE À CRIMINALIDADE: no mês de abril ocorreu o maior crime da história recente de uma pequena vila, distante 130km da cidade de Mombaça, no Quênia. Depois de mais de vinte anos sem qualquer ocorrência policial no lugarejo, o jovem Onesmus foi flagrado furtando uma galinha no quintal da Sra. Sally. Com a ajuda de um cachorro, ela conseguiu deter o larápio, que foi segurado por vizinhos e ficou amarrado a uma árvore, até a chegada, no dia seguinte, do Sr. Willi, o único guarda municipal que morava nas redondezas e que funcionava também como juiz, delegado, conselheiro, carteiro, professor de aritmética e vendedor de algodão doce. Ao ver o indiciado, deu-lhe o maior sermão, na vista de todo mundo, com uma vozeirão estridente, durante quase meia hora. Em seguida, soltou-o, sob os aplausos satisfeitos de toda a população local (quase oitenta pessoas). Mas, logo após a dispersão, chamou-o in off e disse-lhe: “Faz isso mais não, meu rapaz! Eu te conheço desde pequeno. Gosto de tu. Conheci teu pai, conheci tua mãe. Assim tu estraga a imagem do lugar e a minha reputação.” Em seguida, deu-lhe um dinheiro para comprar uma galinha e fim de caso.
 
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EM POLÍTICA DA PAZ: no mês de junho, depois de mais de uma semana sem se falarem, e diante de uma iminente guerra intestina de nervos, em razão de provocações subliminares recíprocas, Kifah e Jury, marido e mulher, moradores da cidade de Basra, no Iraque, reataram relações de amor e amizade, para o alívio dos quatro filhos e do camelo, isso depois de habilidosa intermediação do Sr. Rafid, chanceler da família-estado vizinha. Ele é conhecido voluntário em missões dificílimas, como desentupir encanamentos, fincar cercas em areia seca e até mesmo fazer sorrir de vez em quando a Sra. Suha, uma antiga vizinha, sobrevivente de guerra, normalmente macambúzia e mal humorada. Com a vitória das negociações, houve uma grande rodada de quibes no fim de semana seguinte, com a expressiva participação de sete casais convidados ao lar repacificado.
 
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NO ATLETISMO: no mês de agosto, o Dr. Fausto, cardiologista carioca, já estava se aquecendo para começar a correr sua Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. De repente, em meio aos milhares de participantes, ele avistou Genaro, um velho catador de papelão, todo sujo, descalço, roupas quase em trapos, barbona toda desgrenhada, mas todo garboso, com o paninho da inscrição sobre o peito, também trotando pra lá e pra cá na lateral da pista, a fim de participar daquela grande festa móvel e democrática. Ao se aproximarem momentaneamente um do outro, se reconheceram como antigos rivais das pistas nos anos setenta. O médico lembrou que nunca tinha conseguido vencer aquele concorrente, apesar deste, naqueles anos, já ser um coroa e ele, ainda um adolescente. Esquecendo momentaneamente algumas diferenças sociais supervenientes, quase no ato ambos ressuscitaram o velho espírito de rivalidade recíproca, com sorrisos e ares desafiadores, apesar da idade já avançada de um e a ainda jovial aparência do outro. A historicamente esperada revanche e a sonhada vitória de virada, agora, tinham tudo para dar certo. E partiram. O mais novo assumiu logo a dianteira, parecendo um menino, enquanto o mais velho sumiu logo lá atrás na enchente humana. Só que faltando uns seis quilômetros para a faixa de chegada, o do coração teve que tirar o tênis importado, inaugurado naquele dia, e que já estava lhe doendo insuportavelmente. Reduziu bastante o ritmo das passadas nuas. Não aguentando mais, inclusive por causa das machucaduras logo sofridas na sola dos delicados pés, sentou-se na lateral da pista, ainda faltando uns três quilômetros. Não tardou muito, viu passar o do papelão, que, no mesmo ritmo com que saiu, continuou, lenta e imperturbavelmente, com os pés no chão. O sentado ainda tentou se virar às pressas para não ser visto, mas não deu tempo. Recebeu um tchauzinho sorridente.
 
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NO SOLIDARISMO URBANO: No mês de setembro, uma cena rara e inusitada chamou a atenção de dezenas de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo. Em plena 10h da manhã de segunda-feira, o pequeno Clóvis viu um cachorrinho de rua ser atropelado por um micro-ônibus. Como o carro onde viajava com o pai Amauri estava parado numa sinaleira próxima, ele, num impulso, saiu e correu até o animal, para tentar salvá-lo. Foi quando o sinal abriu. O pai veio até ele às pressas, os circundantes gritaram, mas o pequerrucho se agachou imperturbável, para pegar o bicho, que gemia e se contorcia todo, enquanto um buzinaço já estrondeava. Uns dois ou três transeuntes, anjos do asfalto de última hora, ajudaram o pai na proteção do salva-vidas. Por uns trinta estressantes segundos, conseguiram conter o fluxo do trânsito com acenos desesperados de mãos, até que eles reentraram no veículo, tendo o acidentado sido colocado no porta-malas. Evitaram a tempo o que seria mais um grande congestionamento naquela nervosa artéria citadina. Logo, logo, desrepresaram o rio de metal, sob muitas vaias e uns poucos aplausos, e seguiram para um pronto-socorro veterinário.
 
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NA ECONOMIA: No mês de dezembro, Joseph, morador da cidade de Nova Iorque, conseguiu finalmente, já quase às 23h do dia 24, adquirir o prometido presente que os dois filhos Andrews e Karen, de quatro e três anos respectivamente, esperavam avidamente em casa. Quando ele tocou o sino, foi uma festa, uma algazarra. E ambas as criancinhas, como há muito tempo não se via, dormiram com um semblante de felicidade naquela noite, sobre o presentão recebido, qual seja, um macio, quase felpudo papelão de geladeira novinho em folha, que substituiu os trapos sujos sobre os quais dormiam até então em sua residência debaixo de um viaduto.
Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 30/12/2013
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4630445
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