O vizinho

Infelizmente, suor era a menor de suas preocupações.

Roberto acabava de se aposentar, chefe de uma empresa multinacional por muitos anos, era o exemplo de dedicação e trabalho. Para ele o tempo era corrido só não tinha tempo de viver.

Uma grande festa de despedida, todos os funcionários presentes do porteiro ao substituto a chefe, muitas comida, bebida e ao final pediram discurso.

_ Muito obrigado, bem quero agradecer por todos esses anos e dizer que estou de partida para o Estado do Rio de Janeiro, um merecido descanso.

Saiu da empresa, passou pelos corredores, desceu de elevador preferencial, chegando ao térreo, abriu seu carro que permanecia por anos com aquela vaga garantida. Sem olhar para trás disse:

_ Enfim, minha vida começa agora.

Roberto era temido por todos e não sabia, mas a festa realmente de despedida era por ele estar saindo da empresa, um chefe insuportável, não gostava de ninguém, o poder fazia dele um homem mal humorado não cumprimentava ninguém só sabia mandar gritar e dizer coisas humilhantes dos funcionários e ninguém podia fazer nada se não era rua, ele era o chefe.

Era impossível deparar com uma situação mais desagradável ou mais desesperadora pensou uma das assistentes.

Mesmo saído da empresa a capacidade de raciocínio do Roberto parecia pelo menos intacta. Podia até estar lento por causa dos anos na empresa, mas ele não estava morto e não tinha intensão de partir dessa vida sem lutar por tudo que ainda almejava.

Ao chegar na sua casa, colocou sua pasta sobre a mesa sentou-se na poltrona favorita e chamou sua esposa.

Maria, Maria!

_ Tudo esta pronto para nossa partida.

Maria era uma esposa bem ativa, carinhosa e caridosa gostava de ajudar a todos e com isso causava irritação em seu Marido.

Sempre apressado e nervoso com tudo e com todos.

Tudo o irritava tudo o preocupava, agora era o fim de um novo começo.

_ Bom dia meu amor, já estou pronta sim, tome seu café com esse bolo que fiz com calma, pois logo em seguida partiremos.

_ Vamos deixar tudo isso para trás, já arrumamos comprador para nossa casa. A empresa de mudança já ligou dizendo que tudo chegou conforme combinado, estão nos aguardando para entregar a chave da nossa nova casa.

_Estou ansiosa para começar a vivermos tranquilamente e felizes.

Roberto levantou arrumou seus documentos na pasta e foi até o banheiro, lavou o rosto, um breve olhar no espelho, fixou como se não o conhecesse aquele homem diante do espelho.

Barba branca, cabelos grisalhos olhar cansado, não era eu.

_Pensou ele!

Maria venha aqui. Compre para mim tintas.

Maria bem surpresa, mas feliz por tal atitude falou:

_ Meu bem estamos atrasados, o pessoal da mudança estão nos aguardando.

Eles que esperem, acabo de me aposentar, agora é eu, eu e eu. Não terei mais pressa para começar a viver.

Maria contente por aquelas palavras, logo providenciou tudo que ele pediu. Por sorte tinha uma farmácia perto de casa.

Roberto era outro homem, ar jovial, cabelos escuros, barba feita.

_ Agora sim disse ele.

E partiram sem olhar para trás. Seguiram viagem para Valença Estado do Rio de Janeiro, uma cidade aconchegante, cheia de natureza e beleza, ar puro e tranquilidade para recomeçar. Tudo que o casal queria naquele momento, viveram em São Paulo por todos esses anos o trabalho e agitação não os deixavam viver e aproveitar nada e queriam esquecer de tudo e começar de novo uma nova vida em busca de sossego.

Uma viagem cansativa, mas ansiosos para chegar à casa nova deixava-os agitados.

Fizeram algumas paradas e quando estavam chegando a Aparecida do Norte Maria o pediu:

_ Meu bem quero aproveitar e fazer uma oração e agradecer a Nossa Senhora de Aparecida pela nossa viagem e rezar para nosso querido filho.

Roberto estava muito cansado aceitou a parada queria mesmo era comer algo e descansar, deixou as orações para sua esposa amada, muito devota rezava sempre para nosso Pedro Gabriel.

Aos vinte anos sofreu um grave acidente de carro, estava numa festa com amigos e haviam muita bebidas e drogas e eles não sabiam até então que seu filho Pedro Gabriel fazia uso dessas drogas.

Sempre fazemos o que pensamos ser o melhor dentro do nosso nível de lucidez. Eu e minha esposa não poderíamos ter feito diferente do que foi, por que era a nossa maneira de educa-lo com rigidez e disciplina. Queríamos que nosso filho se formasse e tivesse uma vida feliz. Seguiram outros caminhos, aquele que não tem volta.

Foi lamentável perder nosso filho, mas fizemos tudo por ele, e pedíamos sempre que Deus o abençoe onde esteja. Não se conformavam, mas estavam vivos e tinham que tocar a vida adiante.

Algumas horas depois já chegando a Valença, saíram do carro com dores nas costas e nas pernas , mas aliviados e agradecidos pela viagem.

Tudo conforme combinado os móveis todos no lugar a casa prontinha com cheirinho de nova.

_ Enfim chegamos, seremos felizes daqui para frente, minha doce Maria.

A casa era bem arejada, um quintal com muitas flores e o andar de cima com uma bela varanda, uma bela vista. O quarto do casal era bem arejado e uma janela que dava de frente para casa do vizinhos. Maria ao abri-la se deparou com um rapaz olhando para ela, e por educação o cumprimentou.

_Bom dia!

Ele só olhava com um ar curioso olhar profundo mas bem atentos ao vizinhos de cima.

_Maria, meu amor com quem esta falando.

_ Perguntou Roberto.

_ Só cumprimentando o vizinho da casa ao lado.

_ Minha querida, deixa disso não quero você tento intimidades com vizinhos viemos para ter sossego.

Maria irritada com a falta de educação do seu marido, fechou a janela e desceu para a cozinha preparar algo gostoso.

Ainda bem que pedimos para trazer algumas compras, amanhã bem cedo sairemos para conhecer melhor a cidade e fazer compras .

Ao acordar Maria abriu a janela e estava lá o vizinho olhando.

_Bom dia , disse em voz baixa.

Nada do vizinho responder, ficava só olhando.

_ Bem que Roberto tinha razão vizinho só serve para xeretar.

E assim foi passando os dias na nova casa, passeios pela bela Valença, conheceram lugares lindos, cachoeiras, fazendas históricas, tiveram a oportunidade de conhecer a tão famosa Festa da Padroeira da Cidade Nossa Senhora da Glória e muitos lugares bonitos, Mirante do cruzeiro, Torre na Serra dos Mascates.

Num belo domingo Roberto como de costume acordou bem cedo, pegou o jornal como o dia estava lindo abriu a janela e sentou-se para ler e quando olhou meio incomodado viu que o vizinho estava lá olhando e muito aborrecido bateu a janela e chamou sua esposa.

_Maria. Maria!

_Meu bem não quero me aborrecer, mas aquele vizinho fica todos os dias olhando para cá isso é invasão de privacidade vou lá tirar satisfação e procurar saber por que fica na janela olhando para nossa casa, será que não tem nada mais para ele fazer. Deve ser algum desses vagabundos que ficam observando para depois dar o bote e nos roubar, como saímos muito, vamos ter que providenciar alarmes para nossa casa.

O domingo foi agitado com Roberto reclamando do vizinho, nem fomos passear como de costume. Fiquei muito preocupada, pois saímos de São Paulo onde tudo era correria e para o Estado do Rio de Janeiro descansar e viver bem e começamos a nos estressar com vizinhos.

E infelizmente teremos que nos acostumar.

Maria ainda pensativa e um pouco nervosa pediu para que ele não fosse lá tirar satisfação acabamos de nos mudar e não queria ter inimigos no Bairro.

Não adiantou Roberto bateu palmas na casa do vizinho, e uma voz de mulher disse:

_ já vai, espera um minutinho.

Era dona Rita, uma Senhora por volta dos 50 anos, rosto castigado pelo sol, mãos com muitos calos, estava com avental molhado e cabelos com rolos e um lenço branco em volta.

_ Bom dia o que o Senhor deseja?

Bom, nada muito bom, mais pela educação bom dia, meu nome é Roberto sou morador da casa ao lado e vejo todos os dias que um rapaz fica olhando para dentro da minha casa pela janela e isto esta incomodando , pois temos que manter nossa janela fechada por conta da invasão dele.

_Intendo Senhor Roberto, realmente vi que o senhor é novo no bairro e ainda não tive tempo e nem tenho tempo para poder me apresentar e conhece-los melhor , trabalho o dia todo lavando roupas para fora ajudo no sustento da casa e do meu filho Pedro Gabriel.

_Então é seu filho?

Roberto um pouco abismado pela coincidência do nome, a senhora pode pedir para que não fique na janela olhando para nosso quarto por gentileza, se não vou tomar minhas providências quanto ao comportamento do seu filho.

Dona Rita pediu calma ao senhor Roberto e convidou a entrar.

Por favor, não repare, fico no quintal cuidando das roupas e não tenho muito tempo para arrumação da casa.

Roberto um pouco confuso com tanta roupas e mais roupas, uma casa pequena mas Dona Rita muito atenciosa e educada.

O senhor aceita uma café?

_ Muito obrigado acabo de tomar em casa.

Aqui é o quarto do meu filho Pedro Gabriel, mas peço por gentileza que não se irrite com ele.

Meio pensativo não entendeu nada, estava mesmo era irritado com tal situação.

Dona Rita abriu o quarto e disse:

_ Pedro Gabriel esse é o Senhor Roberto ele veio te ver.

Roberto atento e surpreso olhou bem o rapaz e quando ele com ajuda da sua mãe virou-o , pois na janela ele estava viu que ele tinha algumas limitações, viu que ele não tinha movimentos da cintura para baixo e estava numa cadeira de rodas perto da janela. Com muita dificuldade esboçou um bom...

Dona Rita então disse que quando Pedro Gabriel nasceu teve meningite e ficou com sequelas não podendo se movimentar, e o tratamento na época era caro e os remédios também. O que eu ganho não dava para custear. E hoje a única distração dele é ficar olhando pela janela , não tem como mudar de janela e nem de lugar , ali é onde ele se sente um pouco livre, ele vê os pássaros e ver gente. Sente o sol bater o vento soprar e a chuva molhar.

Roberto arrepiado e com o coração na mão, saiu da casa da Dona Rita com um mal estar e dor de cabeça.

Chegando em casa contou tudo para Maria o que tinha visto e sua esposa chorando disse:

_ Amor temos que ajuda-lo.

Quando passamos em Aparecida do Norte senti nosso filho nos guiando e senti que ele pedia para tentar mudar nossa vida e fazer algo para ajudar os outros, temos condições e tempo agora para ajudar.

Roberto ainda confuso pediu para pensar, mas naquela noite não consegui dormir pensando em Pedro Gabriel seu filho que estava morto e no Pedro Gabriel que estava vivo. Não pude fazer nada por meu filho ele morreu, mas posso fazer por este rapaz.

No dia seguinte voltou na casa com sua esposa e Dona Rita surpresa e um pouco receosa perguntou o que eles queriam.

Eu e minha esposa Maria desejamos ajudar o seu filho e queremos que ele faça exames por nossa conta e estude.

Mas como? Dona Rita feliz e ao mesmo tempo agitada.

_ Ele tem limitações e não pode estudar.

Pode sim Dona Rita ele está vivo e pode tudo que ele quiser e contaram a história do seu filho que havia morrido uns anos atrás .

Dona Rita emocionada até chorou, pois apesar das limitações seu filho estava vivo e o filho do casal que tinha tudo e era perfeito morreu por causa do uso de drogas. E ressaltou sabias palavras:

_A vida pega peças e nada neste mundo é por acaso, seu filho Pedro Gabriel morreu por conta das drogas aquelas que fazem mal e causam dependência e meu filho também Pedro Gabriel precisava das drogas boas aquelas que curam para viver e eu não tinha condições de compra-las, ironia, destino, fatalidade, nunca saberemos.

Quando Maria entrou no quarto viu o rapaz na janela maltrapilho, mas com um sorriso no olhar um sorriso de esperança e amor a vida.

E assim foi, Maria e Roberto não mais o encontrava Pedro Gabriel na Janela, encontrava com ele pessoalmente nos tratamentos e ficavam felizes com cada sorriso de felicidade, sabia que não seria fácil, mas tudo que não tinham feito para seu filho Pedro Gabriel eles iriam fazer para ajudar ao Pedro Gabriel O VIZINHO.

O Tempo muda as pessoas.

“ O tempo muda as pessoas e com o tempo pessoas mudam-se e viram pessoas.”

Fim

Autora: Andréia Sineiro

Valença RJ

Data 19/12 comecei a história as 11h00minhoras manhã

01h30min terminei.

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Andréia Sineiro
Enviado por Andréia Sineiro em 30/12/2013
Reeditado em 30/12/2013
Código do texto: T4630659
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