O CARTEIRO E O CACHORRO

Não posso dizer que ele era um cachorro bonito sem que com isso, alguém que conheça a história, diga que estou mentindo. Isso por que ainda mais do que em relação aos seres humanos, somo racistas com os animais. Fora recolhido da rua, quando pequeno, por um senhor já de idade avançada que passava por essa estrada com sua velha caminhonete. Levou o cão para casa e o tratou com todo carinho que uma pessoa amargurada pela vida pode oferecer. Ou seja, passava o dia provocando o cão, o instigando sempre que passava alguém por aquela rua deserta. Seu principal alvo era o carteiro, um rapaz negro que acabara de assumir o cargo e que morria de medo daquela fera.

Certo dia o carteiro passou pela casa e notou que o cão estava inquieto. Latia e corria ora para o portão, ora para a casa. A rua como sempre estava deserta. Por certo algo teria acontecido e o carteiro sentiu que deveria fazer algo, embora isso fugisse completamente de suas atribuições. Pulou o portão e o cachorro veio em sua direção. O carteiro, vencendo seu medo, encarou o animal nos olhos e passou reto em direção a porta, o cachorro o seguiu, mas já não latia. Lá dentro o óbvio acontecera. O velho estava imóvel em sua poltrona. Depois de chamar a ambulância, a policia e dar o depoimento, o carteiro foi liberado; mas quando saiu não saiu sozinho. Tentou mandar o cão embora, era inútil.

Dizem que durante os próximos anos o carteiro sempre levava o animal que batizou com o próprio nome consigo para o trabalho, surgindo assim a história do Carteiro e o Cachorro. Ficaram famosos na cidade e até deram entrevista para televisão. Um dia o cachorro ficou doente e morreu. Para o carteiro era triste demais ir trabalhar. Largou o emprego e de resto não sei o que houve. Uns dizem que fora trabalhar em um abrigo de animais numa cidade próxima, outros que se enamorou de uma moça bem de vida e que fora esse o real motivo de largar o emprego. A verdade é que ninguém nunca soube. Talvez tenha ficado triste e desempregado para o resto da vida. Talvez. Vai saber...o fato é que nunca mais entregou cartas lá em casa.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 13/01/2014
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