Rápidas Palavras Reunidas Para Um Curto Conto

O corpo sem vida de um rapaz jazia numa calçada do bairro do Uberaba.

Região complicada da cap. Drogas. Gangues. Tem gente de bem que trabalha e vai levando, claro. De resto é confronto com polícia e muita morte. Quando tem “presunto” na picada imprensa aparece pra fazer a cobertura e o sensacionalismo. No peito do jovem de 23, casado, marcas profundas do que supostamente foram facadas ou pontaços de estoque e a cabeça arrebentada com um tijolo que ficou ao lado do morto.

Era conhecido na região por ser de bebida e briga. Era conhecido por ser ciumento da esposa, linda menina de 21 anos com quem era casado a quatro. Não tinham filhos. Ainda. Melhor assim. Chega de órfãos nesse país? ...país? Eu disse país? Deixa pra lá. Vamos aos fatos. Volta e meia tomava meio demais e ficava meloso. Em outras virara valente. Ou era valente de fato? Batia e apanhava. Apanhava e batia. No dia seguinte – quando conseguia chegar a sua casa e não apagava pelos terrenos baldios das cercanias-tinha de correr atrás de prejuízo. Trabalhava de pedreiro, segurança de casa noturna, eletricista e encanador. Sempre na correria para sustentar sua casa, a mulher, o estilo de vida de quem curte uma pinga pesada. E esse curtia. Não de todos os dias. Porém quando dava vontade de “matar o bicho” era pra valer. E não raro voltava para casa com os olhos roxos, uns dentes a menos e a cara de cachorro pidão que faz essa gente que não tem nenhum limite. Não sabia dizer “chega”. “Parei” não fazia parte do seu vocabulário corrente. Bebia quase de cair e sua mulher sempre o amparava o perdoava na volta. Coisa de gente simples que ama,gosta, por respeitar e não conhecer as artimanhas de pessoas que não valem o que comem e tem um EGO inflamado que não cabe no corpo, que tem muita ilusão besta em si mesmo e se acha o centro da atenções por ter uma grana a mais, um cargo e um canudo de papel que pra mim pode enfiar no cu porque só se formou para ser mão de obra barata. Pensam que não é gado. Gado, e da pior qualidade por não admitirem o ser. Toca o barco. Mas o que teria nosso personagem feito para acabar de uma forma tão trágica. Era o que imprensa, a polícia e os vizinhos se perguntaram. Parece que foi alguém que ele tenha ofendido num final de semana anterior. “Parece” é coisa do capiroto. Que remédio? Apenas especular para inventar fofocas e ter assunto enquanto se toma uma gelada aos raros 34 graus de Curitiba. Agora sim ele ficaria famoso por uns dias. Sairia na capa da “Tribuna”. Quem não gosta de jornal impresso com sangue, tripa e urubu? Quem diz que não faz firula e mente. E lê escondido no banheiro do emprego. Cadáver tétrico de se ver. Vizinhos e conhecidos diziam que ele tinha bebido bastante certa noite e ficou valente com três rapazes que não eram do bairro e tinham ido visitar um amigo e sugerido uma cervejinha para conhecer o bar do bairro. Outros diziam que tinha se envolvido com uns caras barra pesada lá dos lados da Trindade e caído na pedra. Outros ainda que fosse alguém de olho na sua esposa. Quem vai saber. A polícia que vá atrás das evidências e prenda os suspeitos e inicie o inquérito. O mais curioso foi quando chegou a esposa. Uma grossa lágrima pendia do seu olho castanho e ela chorava em silêncio enquanto dizia ao policial que tomava seu depoimento no local:

“Doutor, domingo eu dormi na casa dos meus pais. Ele me ligou eram umas onze da noite. Tinha bebido. Eu já sabia e me dizia o tempo todo: ‘eu te amo, você é mulher da minha vida, se acontecer alguma coisa comigo não me esqueça, se eu morrer o me matarem, sabia que você morava no meu coração e que era minha mulher. Te amo. Muito. Te amo. Se eu morrer não esqueça de mim e guarde sempre as nossas fotos juntos...’

Curitiba, 28 de janeiro de 2014, 30 graus célsius, Verão.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 28/01/2014
Código do texto: T4668610
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.