Minhas coordenadas cartesianas (velhos que nunca morrem)
         -Quem vai ficar com ela? – Perguntou Paulo, que já havia olhado para o relógio duas vezes em apenas um minuto.
         -Você – disse Amanda – eu tenho um apartamento menor, dois filhos, não tem espaço para ela.
         -Você não tem dinheiro. – Falou Paulo – como vai ajudar?Você têm que ajudar de alguma maneira, eu dou o dinheiro você fica com ela, a Patrícia não quer saber da velha lá em casa, sabe que as duas nunca foram com a cara uma da outra.
         A senhora estava na cozinha preparando um pudim, o senhor morreu no mês passado, essa era a quinta vez que os vizinhos chamavam os filhos, em uma delas a velha estava caída e batido a cabeça, tiveram que leva-la para o hospital.
         Paulo remexeu na cadeira e acrescentou.
         -Casa de repouso é muito cara, não consigo pagar sozinho, bem o seu marido é carteiro... E você ?– quis falar mas não falou que achava que a profissão da irmã fosse boa vida, nem estudar nem trabalhar, nem queria cuidar da mãe.
         -Pelo amor de Deus, você trabalha em um banco, não pode cuidar da velha? – Disse Amanda.
         Eles se calaram, a senhora chegou com um pedaço de pudim para cada filho e tinha um sorriso nos lábios.
         -O que é essa mancha no seu vestido mãe? – Perguntou Paulo.
         -É urina Paulo– disse Amanda – deixa mãe, vou te ajudar.
         Lágrimas escorreram da face da senhora, puxada pela mão por sua filha ela  ainda disse.
         -Cadê Rodrigo?
         -Mãe, o pai já morreu – disse Amanda.
         -Puta que pariu – resmungou Paulo olhando mais uma vez para o relógio.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 20/02/2014
Reeditado em 23/02/2014
Código do texto: T4699138
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