"ZÉ"

Mal o dia clareava e ele já estava de pé, gostava de acordar bem cedo. A mãe dizia que era pra poder fazer mais travessuras. Zé era assim mesmo, vivia aprontando, mesmo sabendo que isto lhe custaria uma surra do pai ou da mãe. Naquela manhã bonita, Zé estava mais animado do que nunca, seria o primeiro dia depois das férias, que ele e os dois irmãos mais novos, voltariam à escola. Ele fez tudo direitinho, acordou os dois irmãos, tomou um reforçado café matinal na companhia deles, mas atrevidamente colocou a camisa nova, de pano xadrez que a tia madrinha havia feito para ele, logo foi censurado por um dos irmãos lembrando-o que aquela camisa era de “ir à missa”, e que a mãe não ia gostar nada nada de vê-lo com ela. Zé ignorou tal observação, pois, teimosia era mais um de seus defeitos, e quando queria uma coisa, nada, nem ninguém mudava isso, ainda mais quando ele estava todo faceiro, querendo impressionar Maria, uma mocinha da mesma escola e pela qual Zé tinha grande apreço. Saiu apressado sem que a mãe o visse.  O caminho para escola era longo, uma boa caminhada, atravessando a ponte, pastos e o cafezal da fazenda, onde Zé nascera, e ali estava se criando, deixando a vida passar sem pressa, e aproveitando cada minuto dela.  Na escola tudo transcorreu de forma adequada, muita algazarra e barulheira, era a meninada querendo por a prosa em dia. Terminada a aula Zé, os irmãos e mais alguns amigos que moravam em sítios e fazendas vizinhas, voltaram para casa. Os amigos fizeram questão da companhia dele, pois, Zé era muito divertido e eles, adoravam ouvir as histórias das travessuras, que ele constantemente aprontava. Foi no caminho de volta quase perto do riozinho, que Zé avistou em um alto coqueiro, um casal de pássaros pretos, no mesmo instante calculou que lá em cima havia um ninho, e quem sabe nele também haveria filhotes. Zé não pensou duas vezes, jogou a bolsa no chão e anunciou aos companheiros, que iria a busca daquilo que há tempos queria, e apesar do protesto dos irmãos, que com certeza tinham muito mais juízo que ele, Zé iniciou a escalada no íngreme coqueiro.  Nem demorou muito e ele já alcançou seu objetivo, e tudo era como ele presumiu, no ninho havia dois filhotes de pássaros pretos, já empenados e quase prontos para alçar vou. Com todo cuidado Zé acomodou as avezinhas dentro de sua camisa, e num ímpeto escorregou coqueiro abaixo, deslizando rapidamente, em segundos estava ao chão. Foi aí que percebeu o olhar estupefato dos companheiros, que observavam sua camisa nova, toda encharcada de sangue e com um enorme rasgo de cima abaixo. Zé ficou pálido, ao ver que o que restou dos filhotes, foram apenas algumas penas e os corpinhos esmigalhados. Ele não soube naquele instante, se o pior era ver o triste resultado de sua façanha frustrada, ou ouvir em coro dos dois irmãos: “Zé, a mãe e o pai vão te matar!” Diante de todos e em silêncio, tentou se limpar um pouco, pegou a bolsa do chão e foi caminhando em direção à sua casa, seguido pelos companheiros que em fila indiana, não se atreveram dizer palavra alguma. Uma nuvem de preocupação assombrou seus pensamentos, pelo preço que sabia que pagaria por mais esta travessura. Mas, o rosto moreno e os olhos verdes, iluminaram-se num lindo sorriso,quando lembrou a cena de horas atrás, em que ao passar por Maria no corredor da escola, ganhou dela um encantador olhar meigo, naquele par de olhos azuis, e viu aquele rostinho corar, e iluminar-se com um lindo sorriso tímido, que já lhe valeu por toda vida. Pensou naquele instante que fez bem correr o risco da desobediência e certamente pagaria por ele, mas, com certeza valeu a pena, e faria tudo de novo, só para ter outra vez, aquele inesquecível momento.
 
(Inspirado nas histórias que meu contava, das travessuras de sua infância)
                                                                                                              

 
Rosana de Pádua
Enviado por Rosana de Pádua em 21/02/2014
Reeditado em 28/02/2014
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