O Visitante

Apareceu na sala de estar na hora exata em que a garotinha de olhos claros, sardenta e sorridente pensou em enfiar o dedinho na tomada elétrica; com um olhar ele chama a atenção da criança, sorri para ela, balança o dedo indicador em negativa. A mãe está entretida na cozinha, um pressentimento a sobressalta, vai até a sala a tempo de ver o dedinho de sua filha caçula indo em direção à tomada. Corre até ela a tempo de impedir o acidente. A mãe apertando forte a filha nos braços agradece a Deus pelo livramento. A garotinha olha o visitante e sorrindo balbucia alguma palavra desconhecida, em um segundo ele não está mais lá.

Passeia pelas ruas calmamente e entra em uma casa com grades e pequenos gramados com flores; chega a tempo de ver uma senhora muito idosa deitada em sua cama chorando. Solteira e sem filhos, não tem com quem contar, recentemente sofreu um acidente doméstico e está acamada, sem chances de recuperação, ela deseja que sua já tão longa vida finde logo, chora, sozinha. Ele que estava assistindo a cena chega perto dela, senta-se ao lado de sua cama e coloca a mão em sua cabeça, fala calmamente com ela, com carinho e cuidado, a senhora parece não ouvir, mas o choro vai cessando, ela vai se acalmando e logo adormece, o visitante vai-se embora.

Passa por uma rua muito pobre e ouve através de uma janela aberta uma discussão, entra e presta atenção ao jovem casal que briga. Os dois estão exaustos e colocam a culpa um no outro, reclamam da vida, do tempo, da falta de dinheiro e de conforto. O visitante entra em um quarto pequeno e escuro onde um bebe dorme profundamente em um berço muito simples, olha para o bebe e com um leve sopro o acorda, sorri para ele e pede com doçura e confiança que ele chore. O casal ouvindo o choro do bebe, corre até o quarto, acalmam-no, conversam com ele e em um minuto já esqueceram a briga e todos os motivos de insatisfação, estão olhando para o fruto do amor que proveio deles, sentem-se abençoados, se abraçam e juntos veem o bebe voltar a dormir tranquilo.

Continuando sua ronda pelas ruas, vê um carro que vem em sua direção, a motorista está visivelmente alterada, nervosa, ainda não conseguiu sua carteira de habilitação e não tem pleno domínio sobre o veículo, em um momento está ao lado dela, no banco do carona; coloca a mão em seu ombro e a tranquiliza, bem a tempo de evitar que o carro desgovernado subisse no passeio em uma curva e atropelasse um pedestre que caminhava de volta para casa após um longo dia de trabalho.

Entra em uma casa e vê uma família de joelhos orando pela segurança, proteção, conforto e salvação de seus entes queridos, vizinhos, amigos e conhecidos. O visitante sorri feliz, está fazendo muito bem o seu trabalho e com um aceno de cabeça dá a certeza a toda a família que estão sendo ouvidos e atendidos. Fica pouco tempo com eles, porque ainda tem muito que fazer naquela noite.

Priscila Pereira
Enviado por Priscila Pereira em 25/02/2014
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