Daqui do chão vejo as estrelas

Aqui do chão da capoeira junto a minha gente vejo as estrelas. Enquanto nossos corpos tremem de frio na beira de uma fogueirinha, mas não deixaria esta vida por nada. Nem por dez cestos de carne de pirarucu.

Hoje fui ao ribeiro e banhei demais, horas banhando com os curumins todos cantando feito sabiá no mamoeiro e mergulhando feito pirarucu grande. Tinha um jacaré doutro lado, mas nem tivemos medo algum, nós enfrentamos onça sem medo, que dirá um jacaré?

Amanhã depois de chegar à luz, vamos pintar nossos rostos com urucum para nossa festa, vermelho fica todo índio de amor por sua gente, como o urucum. Eita! Saudade de ser mais novo, de ser curumim, de subir na juçara, pequi, abacateiro, manga. Vontade de ser curumim solto no mundo fazendo arte, fazendo flecha e arco espetando em peixe que vem à beira do Igarapé Açu.

Aqui no chão vendo as estrelas com minha gente deitada no chão nesse frio tremendo, só com essa fogueirinha, não queria mais nada não, a não ser voltar a ser curumim. Mas não, basta ser solto e ter minha gente vermelha de urucum perto e o riacho de areia dando peixe, basta isso.

José Lins Ferreira
Enviado por José Lins Ferreira em 09/03/2014
Código do texto: T4721277
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