A jubarte na frigideira

Rosely estava quase na idade da loba... E a cada ano que se passava ela odiava mais e mais fazer aniversários. Não gostava do que via no espelho. As primeiras rugas, a flacidez, os cabelos brancos, a gordura... Ela nunca fora a mais bela, mas não era também a mais feia, era uma beleza comum, normal... Mas a idade estava tirando essa beleza dela. E agora idade era sua inimiga mortal.

E o que a idade afastava além da beleza era o amor. Ela estava numa fase de desespero. As amigas todas casadas, algumas com filhos adolescentes e ela encalhada. Muitas vezes fazia piada em cima do sofrimento, dizia que era uma baleia jubarte encalhada na praia... No fundo toda brincadeira tem sua verdade. E Rosaly sorria pra não chorar.

Não teve sorte no amor. Na adolescência foi a última da turma a ser beijada. Virgindade então era um trauma. Com 25 anos resolveu que ia deixar de ser virgem... Mas só com 26 que perdeu a virgindade. E num ato de desespero foi pro apartamento do cara que conheceu na boate da praia.

Naquela escuridão ela estava achando que pegara um verdadeiro gato. Quando chegou ao apartamento e iam pros finalmentes, o cara tirou as lentes de contato e colocou um óculos de fundo de garrafa e tirando a camisa saltou aquele barrigão enorme com uma cicatriz horrível. Rosely engolia seco e pensava " Se não tem tu... Vai tu mesmo"... E foi... Foi horrível. Ela diz que viveu o conto de fadas ao contrário, beijou o príncipe que virou sapo.

E mais de uma década depois Rosely estava na mesma. Ficava, beijava, transava e os caras a abandonavam... E o tempo passava e a solidão pesava. Rosely agora estava no auge do desespero. Tão carente que perdera o amor próprio.

Já não escolhia mais o cara... O primeiro que aparecesse ela tentava ficar... E da ficada já sonhava com o altar. Então pra ela naquela carência sem fim urubu era frango. Mas mesmo assim, se jogando aos piores tipos nada... nada e nada. Nadava e morria na praia como a baleia jubarte.

Para as amigas era todas sorriso, mas em casa, sozinha chorava e sonhava com um amor. Desejava do fundo da alma... E tinha esperanças. Porque apesar de tudo conhecia algumas mulheres que o povo falava que eram encalhadas e casaram.

Uma vez desabafando com Julieta sobre a falta de amor ouviu a amiga dizer:

- Calma amiga, toda panela tem sua tampa.

- Pois eu acho que sou frigideira então. Não tenho tampa.

Rosely já esperava pela risada da amiga, mas Julieta não riu. Apenas disse:

- Você sabia que algumas frigideiras agora já vem com tampa?

Rosely ia abrir a boca pra discordar quando Julieta continuou a falar:

- Rosely enquanto você não pensar positivo, não se valorizar, ficar fazendo piada em cima da própria desgraça você não vai se motivar... Vai sempre ficar na mesma. É um círculo vicioso.

- Sou uma jubarte encalhada amiga...

- Pois então imagine essa jubarte se debater pra não morrer e imagine um monte de militantes do Greenpeace empurrando-a de volta pro mar...

Rosely sorriu e Julieta continuou a falar.

- Você pode se achar a Jubarte, mas eu sou a militante que não vou te deixar morrer na praia.

Então Rosely percebeu naquele instante que nem todo mundo pensava que ela era encalhada. Ela ganhou um apoio inesperado em uma simples conversa... Ela já não tinha mais forças pra voltar sozinha pro mar ... Agora viu que teria sua amiga Greenpeace não precisava mais se conformar em morrer na praia. Rosely agora começou a ver um oceano de possibilidades.