A MACA

Sou um cadeirante e diariamente saio a observar o movimento urbano.Já olhei pelas ruas da cidade e nada encontrei.Não espero em filas , não porque ache isso desagradável ; porque a lei não deixa.Observo dezenas de pessoas passando a frente um dos outros na fila.Alguns espertos, inventam que estão aleijados e outros com dores.

Ao caminhar observo velhinhos atravessando a rua sozinhos no buzinaço urbano. Eles perderam o medo, podem ser atropelados a qualquer momento.O cotidiano despercebe um homem caminhando elegantemente próximo a calçada do banco nacional.O rapaz pede dinheiro , mas não está com fome apenas sede de morrer.O sol brilha intensamente na minha visão.

Gosto de caminhar pelas ruas da cidade porque geralmente vejo o que ninguém consegue ver. As frases dos carros louvando a Deus e agradecendo pelos presentes materiais. As pessoas nas esquinas conversando sobre a movimentação local. Apenas escuto diversos pronunciamentos. É uma grande cão fusão lembrando os filmes adaptados do super Homem.Afinal de contas , nós meros mortais não temos visão de raio xis para ver o que há por traz das malas.

Mas encontro um amigo que pergunta:

-o que sente diante dessa grande movimentação.

Respondo com eloqüência sufocante:Eu não sinto nada!

Já percebemos que muitos tem esse poder de sufocar nossas respiração. Mas o moço não desiste mesmo e pergunta se o céu é azul. Mas uma vez a minha resposta é questionada afinal porque não sei. Hoje, amanheceu chovendo bastante, o dia tornou-se frio. É a revolta da natureza. Os telejornais só anunciam tragédias para ganhar o ibope.A concorrência é mesmo cruel.

O rapaz educadamente pediu licença e me conduziu.Eu estava mais tranqüilo , pois , não andava mas sozinho pelas poeirentas ruas da cidade.

De repente escuto as sirenes ligadas.Não sei se era da policia ou das ambulâncias.Elas ultrapassam todos os automóveis vermelhos;azuis e raramente amarelos.Percebo o estacionamento para pessoas com deficiência ocupado,quem sabe por um carro oficial.

-E eles tem juiz que usa cadeira de rodas?Pergunto ao meu condutor.

E ele sem titubear responde:

-Não sei.

Essa é uma velha política de omissão de informações.As vezes quem sabe muito precisa de mais perdão.Aí me lembro da frase do carro “Quando Deus quer é assim”.Mais uma vez o grande culpado Divino.Os homens nunca entenderão isso para sempre.Penso em tudo isso , até no homem da mala preta.Talvez um executivo ao telefone ligando para a esposa.

Você viu aquele homem perto do banco?

E o moço de barba rala responde:- Sinceramente eu na consigo entender isso;como pode alguém ter tido a coragem de assaltar um deficiente físico?.

E o enfermeiro segura com raiva aquela macia maca.

JOSÉ MÁRIO POETA CADEIRANTE
Enviado por JOSÉ MÁRIO POETA CADEIRANTE em 19/06/2014
Reeditado em 21/06/2014
Código do texto: T4850596
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