CAMINHAR FAZ BEM AO CORAÇÃO

Impreterivelmente todo fim de tarde ele se preparava com seu moletom de ginástica, fazia os aquecimentos recomendados pelo cardiologista e punha-se a caminho. Seu percurso seguia pelo calçadão da movimentada Rua Dalton Anderson, uma distância aproximadamente de três mil metros até o campo do Pacífico e outros tantos de volta a casa.

Por todo o trajeto lembranças da infância assolavam sua mente. Aquela rua hoje tão tumultuada antes era local propício para a pelada com os amigos, a poeira não impedia tal diversão, agora para cruzá-la de um lado a outro somente nas faixas de perdestes quando o sinal estiver fechado para os automóveis. As margens desertas de antigamente foram tomadas por rede de lojas, supermercados e restaurantes. Ele conhecia quase todos os proprietários daqueles comércios, eram seus pares na câmara municipal.

Todos os dias cruzava com os mesmos rostos, as mesmas saudações, acho até que as mesmas centenas de carros pareciam se repetir. Um dia algo chamou sua atenção, sentada na sorveteria uma jovem apresentado uns vinte e cinco anos abrilhantava a cena quebrando a monotonia. Muito observador nos dias seguintes sempre a procurava com os olhos até que finalmente um leve aceno foi correspondido.

Ansioso no outro dia, tanto na ida como na volta não viu a jovem. Foi uma caminhada angustiante. Mais um dia, e a duvida se a veria novamente. Seu coração acelerou, pois a jovem estava ali caminhando vagarosamente bem a sua frente e na mesma direção.

Foi o dia em que a distância pareceu a menor de sua vida. Uma conversa agradável e amena. Do alto de seus sessenta e oito anos de muitas experiências, viúvo a quase dez, três filhos e cinco netos, voltava a se apaixonar, seu coração renovado batia ardorosamente por uma jovem com um terço de sua experiência.

Durante os meses de namoro e noivado por mais que ele quisesse, ela moça casta nunca deixou que nada se consumasse, mesmo assim ela o entorpecia de volúpia, quase louco de desejo temia em decepciona-lá, não queria feri-la nem magoa-la.

Sob muitos protestos o casamento sairia. Filhos e netos insistiam que a bela era apenas mais uma oportunista com vistas em suas posses. Ele tinha certeza que ela o amava, confiava em si mesmo, em toda sua vida nunca se enganará em seus julgamentos.

Finalmente o tão sonhado dia chegou, a noiva linda, não tinha família, os filhos do noivo não muito felizes mais conformados. A festa foi uma das maiores da cidade, a banda tocou até o último convidado se despedir, o noivo só tinha um desejo. Às três da manhã, já em seu leito de núpcias, a esposa linda, ambiente aconchegante, cheiro suave de rosas no ar, ali saciaria todo o seu desejo reprimido durante tanto tempo. Não iria conseguir sozinho, estava preparado, foi até o closet, apanhou um pequeno embrulho, um copo com água já esperava sobre a mesinha de cabeceira, tomou um azulzinho, dois por garantia, sentiu sua face enrubescer, seu coração acelerou, procurou sua bela esposa desnuda, debruçou sobre ela, suspirou profundamente.

Num prazo de apenas doze horas aquela garota passou de solteira pobre para uma senhora casada rica e por fim uma viúva milionária.