Cantos na Tempestade

Ressoou nova cantiga na tempestade.

Era noite de despedida. Uma gota de chuva escorreu pelo rosto. Os pés descalços sentiam o frio do assoalho, leves ecoavam pela casa noite adentro. De batom vermelho e cabelos emaranhados ela dançou cheia de canções e solidão.

Desvelou a bagunça acomodada, sua casa que já não era mais sua implodia abarrotada do que deixou de ser, de crosta, pó e enfado.

Tirou seus pedaços das sacolas e caixas que fora guardando de qualquer jeito, alguns mandou embora, o que iria ficar colocou sob a chuva que caia sem parar…

Naquela noite cantou sob a tempestade, transbordou de amor… um amor intenso e inesperado, dançou nas maravilhas e nas sombras, nas profundezas e no que havia de mais superficial… Permitiu que a chuva simplesmente molhasse, transformasse o pedaço e o todo.

A despedida foi singela e de certa forma curta, introspectiva. Deram – se as mãos, receosas de soltar, mas plenamente sabidas da necessidade. Ela caminhou vacilante, olhou uma vez para traz, parou um segundo, mas retomou… Já sem lágrimas e repleta de chuva viu suas linhas sumirem aos poucos noite a dentro, linda e efêmera.

Sob um passo de cada vez foi se desvelando uma nova dança…!