PEÃO DE OBRA, QUASE INÚTIL

Eramos muitos contribuído na construção do edifício Continental, suntuosa obra no centro da cidade. Encontrava-se ali todo tipo de artífices, pedreiros, carpinteiros, armadores e ajudantes, destes últimos e mais numerosos se destacava o Djair, senhor de idade próxima à aposentadoria e sem nenhuma habilidade especifica porém um faz tudo, às vezes estava com os carpinteiros, outras com os pedreiros, até de eletricista atacava sem muito entender do que estava realizando.

A verdade era que ninguém o queria por perto, daí o grande rodízio. Atrapalhado nem ferramentas conhecia por nomes, usa-las era pedir demais, sua maior utilidade era na bomba de água, subia e descia os lances de escada várias vezes por dia distribuindo o líquido nas garrafas térmicas dos operários. Era uma espécie de mascote do pessoal.

Certa vez um dos carpinteiros muito brincalhão pediu que fosse ao almoxarifado apanhar a escova de dente para o serrote, o almoxarife ouvindo o absurdo entendeu a brincadeira dizendo que ela estava no quarto andar com o serralheiro. Este por sua vez, fez com que ele subisse ao sétimo em busca de informações com o encanador.

Depois de tantas idas e vindas furioso foi se queixar ao encarregado. Como uma obra daquele porte podia ter apenas uma escova de dente para serrote se era um instrumento de uso de quase todos no edifício. Muito sério e com pena, este pôs fim a brincadeira.

Invariavelmente no prédio tínhamos nossos horários muito bem controlados, uma sirene marcava hora da entrada e saída bem como as pausas para refeições, cabendo ao mestre de obras acioná-la do primeiro andar.

Numa tarde estavam um pedreiro e dois ajudantes trabalhando em uma parede, próximos os serralheiros com suas máquinas barulhentas faziam sua parte, Djair solitário peneirando um pouco de areia. Em determinado momento, não se sabe por que um dos ajudantes se meteu por baixo do andaime esbarrando em algo que fez toda a armação cair sobre ele prendendo-o embaixo de muito peso.

Com uma força sobrecomum o pedreiro e seu outro ajudante agarraram um de cada lado do andaime suportando parte do peso não deixando que cedesse por completo senão seria fatal ao amigo.

Ao Djair pouco coube, era fraco e lento, se tentasse retirar um pouco do peso os outros não resistiriam a seu marasmo. Gritou como um louco por ajuda, mas o barulho das máquinas abafava o som rouco de sua voz.

Subitamente uma idéia salvadora. Acionou a sirene e como não era hora de almoço nem saída, todos olharam de uma só vez.

Assim o socorro veio logo, bem a tempo pois os amigos já sucumbiam ao esforço. Com toda sua inutilidade Djair mostrou que na hora do aperto até mesmo um pobre ignorante tem lampejos geniais.