A RECOMPENSA

Em uma pequena cidade, no interior de algum estado brasileiro, morava uma velha senhora muito rica, cuja riqueza herdara do seu falecido marido. Tal senhora, apesar de muito rica, era muito sozinha, não tinha parentes nem amigos, apenas uma cachorrinha de estimação, cujo o nome não é preciso que o leitor saiba. Contentarmo-nos em chamá-la de Fugida; dado que num certo dia a cachorrinha sumiu e isso constitui um importante motivo para que a história seja contada. A senhora, desesperada e velha demais para procurar pelas ruas a cachorrinha, no dia seguinte, publicou no jornal e em todos os meios de comunicação da cidade, um anúncio sobre o animal perdido, oferecendo uma grande quantia em dinheiro em recompensa para quem achasse ela e devolvesse para sua dona.

A cidade toda se mobilizou para achar Fugida, não por se importar com ela, muito menos com sua dona - a qual tida pela a cidade como uma senhora má que furava a bola das crianças descuidadas, que sem querer acabavam jogando a bola no pátio da velha -, enfim, de qualquer forma, a cidade toda queria a recompensa. Homens, mulheres e famílias inteiras entraram numa verdadeira competição, com direito até a manchete nos jornais locais. Parecia até mesmo uma grande gincana. Alguns que se achavam mais espertos, tentavam levar outro animal qualquer, pensando que a velha não ia perceber a diferença. A maioria saia corrido da casa e do lado de fora largava o animal que tinha usado na armadilha de volta na rua. Passaram-se alguns dias e e algumas pessoas já tinham desistido da busca, por achar que Fugida teria morrido ou fugido para bem longe da cidade.

Até que num dia chegou à casa da senhora um menino, aparentando uns oito anos de idade com Fugida nos braços. Ele entregou a cachorrinha para a senhora e deu as costas, quando foi interrogado se não esperaria pela recompensa.

- Recompensa?

- Sim, anunciei no rádio, na televisão e no jornal.

- Ah, minha senhora, eu não sei ler não. Também não tenho essas coisas que a senhora falou. Apenas vi sua cachorrinha por esses dias dentro do pátio, assim eu a reconheci quando vi na rua e imaginei que estava perdida.

“Deve ser bem pobre esse menino e os seus pais.” Pensou consigo mesma a velha.

- Bem, garoto. Então trate de chamar seus pais. Garanto que eles vão gostar da recompensa pelo filho deles ter trazido a minha cachorrinha de volta.

- Também não tenho pais não, senhora.

Então a velha descobriu que tal como a sua cachorrinha, o garoto também tinha fugido, só que de um orfanato da cidade vizinha que possuía certa fama de maltratar as crianças, sem que com isso deixasse de funcionar.

No dia seguinte, ela publicou no jornal o seguinte comunicado:

''Obrigado a todos por suas constantes buscas a minha querida cachorrinha, mesmo sabendo que não o faziam nem por ela nem por mim, mas pelo dinheiro. Mas não precisam mais se preocupar, por que na verdade ela nunca fugiu, apenas foi buscar um tesouro para mim.''

Ninguém entendeu o comunicado e chegaram a achar que era uma brincadeira de mau gosto da velhaca. E mesmo alguns dias depois, quando ficaram sabendo que ela adotara um menino de rua, não conseguiam entender o que ela quis dizer com tal tesouro.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 04/08/2014
Reeditado em 04/08/2014
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