O CASO DO CABEÇÃO

O distinto cavalheiro estacionou seu reluzente carrão em frente

à loja. Desceu do carro, junto com um garoto de mais ou menos dez

anos. Entraram na loja. O sujeito parou diante das vitrines e examinou

as mercadorias expostas, com o menino ao seu lado.

Macedinho, o vendedor, viu na dupla, ocasião de bons negócios..

"enfim uma boa venda"....comemorou. E foi logo recebendo-os com to-

da cordialidade possível:

- Em que posso ajudar os cavalheiros?

- Por favor, me vê três camisas no estilo daquela, aqui óh pro

CABEÇÃO! Disto isto, o sujeito ainda aplicou um tapinha no cocuruto

do menino.

Macedinho trouxe-os as camisas, desdobrou-as com cuidado, o

menino provou, cairam-lhe como luvas.

- Desejam mais alguma coisa? Perguntou Macedinho, sentindo um

certo desconfôrto.

- Sim me traga dois pares de sapatos..... aqui óh pro CABEÇÃO!

E outro tapinha estalou na cabeça do menino, a ponto de arre-

messar levemente a fronte do pobre para a frente.

Macedinho foi buscar os sapatos deveras espantado com aquela

cena: "Como podia, um sujeito de classe como aquele, tratar uma cri-

ança daquela maneira. Tá certo que o crânio do menino tinha um ta -

manho um pouco acima da média. Mas aquilo era um ultraje" pensou

com seus botões.

- Aqui estão os sapatos....querem ver algo mais?

- Sim, me veja lá três calças de brim! Tudo aqui óh pro CABEÇÃO!

Dessa feita, o sujeito exagerou no recorrente tapinha, tanto que

o garoto chegou até a dar um passo pra frente, tal a força do golpe.

Macedinho diante dessa crueldade, ficou indócil. "Ah meu Deus,

alguém precisa dar uma boa corrigenda nesse sujeito. Onde já se viu,

que descompostura"! E voltou com as calças de brim:

- Mais alguma coisa senhor? Indagou Macedinho escondendo sua

revolta.

- Não, por hora não! Me faça a conta por favor! Encerrou o su -

jeito.

Macedinho virou-se para pegar o bloco de nota e a caneta, po-

rém a força de sua indignação o fez voltar para o sujeito:

- Meu senhor! Não me leve a mal, pois eu não tenho nada com a

vida de ninguém. Mas certas injustiças me corroem por dentro, ade -

mais com uma criança! Pois reparei que todas as vezes que o senhor se referia ao rapazinho aí, lhe chamava de CABEÇÃO e de quebra ainda

lhe aplicava um tapa na cabeça.......

- Com efeito! Respondeu o sujeito. - O senhor é um bom obser-

vador....vou explica-lo a questão! Continuou o sujeito:

- Tá vendo meu carro lá fora? O senhor teria um deste na gara-

gem?

- Não senhor! Nem tenho possibilidades de vir a ter! Respondeu

Macedinho.

- O senhor por acaso, como eu, tem negócios com exportação,

tem fazendas de café, tem ações do Banco do Brasil?

- Claro que não! Sou um simples vendedor! Asseverou Macedi -

nho.

- O senhor por algum acaso, como eu, reside na av. Atlântica,

possui casa de praia em Angra e cadeiras cativas no teatro municipal?

- Decididamente não! Senhor não tenho condições de ter nada

disso! Irritou-se Macedinho.

O sujeito então aproximou-se do ouvido do vendedor, como quem

fosse soprar um grande segredo.....e perguntou:

- Pois bem! E será que o senhor vendedor, teria em casa, uma

mulher novinha, apertadinha?

Macedinho nem esperou a pergunta esfriar e devolveu de pronto:

- Ah senhor, isso eu tenho....isso eu tenho sim !

O sujeito olhou Macedinho desanimadamente e retrucou:

- Pois é! Ter eu também tinha, não tenho mais por causa desse

CABEÇÃO FILHO DA PU.........

BARCEL
Enviado por BARCEL em 18/05/2007
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