Sofrer que sofrer sofreu!
 
Quando eu era novinho, bonitão (bonitinho jamais), enfrentando um problema ou um momento mais complicado, meu pai, num tom bem descontraído, usava a frase acima.
Ele complementava dizendo “Vocês não viram nada!”.
 
O conto que apresento não filosofa sobre o sofrimento, mas, tentando aprender com a gigantesca sabedoria de painho, traz um enredo com choros, chorões e chorosos, porém acredito que a leitura apenas vai divertir vocês.

 
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Ana terminou o noivado com Carlos, pois descobriu que ele estava saindo com a prima Ritinha.
Ela passou a manhã inteira chorando no quarto.
 
A mãe de Ana, Dona Josefilda, sempre que recordava o nome escolhido pelos pais, os inspirados avós de Ana, ela sentia vontade de chorar, mas dessa vez uma dor de dente estava provocando sua grande aflição.
O caçula da casa, Pedrinho, voltou da escola chorando, contou para Josefilda que brigou feio e pegou dois dias de suspensão.
Ele desejou quebrar a cara de Felipe, um coleguinha chorão e valente.
Dona Josefilda deu dois tapas no garoto, ele aumentou o choro.
 
Na TV Fátima Bernardes tentava arrancar lágrimas do telespectador.
Não adiantava, Dona Josefilda só pensava no dente o qual doía demais.
 
Luzia ligou chorando, o marido saiu de casa.
Dona Josefilda tentou consolar a amiga abandonada. Luzia desligou logo, pois o filhinho estava no berço chorando alto.
 
À noite Josefilda percebeu o esposo chorando enquanto conferia a conta de luz cara. Ele reclamou muito, ameaçou cortar os banhos quentes, Pedrinho protestou quase chorando.

Ana parou de chorar, resolveu sair com as amigas.
Ritinha, após saber que Ana descobriu a verdade, começou a chorar arrependida.
Carlos não ligou para o chororô de Ritinha.
Ele não ligava se as mulheres choravam ou não.
 
Chegando ao banco, na manhã seguinte, o sacana descobriu que tinha sido demitido, começou a chorar.
Não vou sentir pena do infeliz, o choro dele não me comove.
 
Preciso encerrar, mas não sei se vocês aprovarão esse texto.
Se vocês não curtirem, acho que vou chorar.
Mas evitarei as lágrimas dos mortais.
 
Vou chorar diferente, fazendo versos sensíveis, deixando as metáforas abraçarem o meu pranto contido, trazendo versos tão tristes que alguma donzela romântica demais ou senhora sonhadora, sem poder disfarçar a emoção, não evitará transformar em choro...
 
Acontece chorar a menina inquieta bastante
Esquece depois o choro, desperta num instante
Eu choro as noites sem ver as estrelas brilhando
Parece o céu demais vazio, tento vê-las chorando
 
Lastimo quando chora a linda namorada bem triste
Garanto “Não é nada, uma luz bonita também existe”
Aqueço a pele sabor queijo enquanto a amargura chora
Ofereço o otimismo, um beijo no canto a fofura implora
 
 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 02/09/2014
Reeditado em 02/09/2014
Código do texto: T4946330
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