Patience

Estava animada, cheguei ao aeroporto um pouco mais cedo e fiquei aguardando o transporte para a reserva florestal onde um grupo de estudantes e pesquisadores iriam fazer uma incursão científica com uma ONG. O caminho até a sede da reserva foi de apresentações descontraídas, conhecendo pessoas de todo o país e até de fora. Chegando lá fomos alocados em chalés até bem confortáveis, muito frescos, com telas nas janelas, rodeados de área aberta e de trilhas até a reserva propriamente dita.

O centro de operações contava com uma sala de comunicação com rádio, computadores, via satélite, uma grande área comum de alimentação aberta, uma sala de refeições coberta, fechada, uma cozinha completa, Uma sala de aula e palestra para umas 40 pessoas, toda equipada e moderna com data show e tudo.

Biblioteca, banheiros, canis e outras dependências de serviço, além de uma escola para a comunidade ribeirinha da reserva. A Mata Atlântica da área recuperada, o lago, o ribeirão, as cachoeiras, belíssimos! Todos sustentando uma rica fauna e flora típica desse tipo de floresta, dentre montanhas.

Rendida estava pela magia e beleza do lugar, acompanhei as explicações dos especialistas, as práticas e colocações de armadilhas para captura de exemplares para estudo. A diversidade flutuava de anfíbios, répteis como jacarés de papo-amarelo, cobras: uma sucuri bem conhecida pelos seus hábitos, mamíferos de pequeno e grande porte como uma onça, morcegos; araneídeos como armadeiras e nephylas. Todos reconduzidos para seus habitat assim que fotografados, identificados e catalogados, além de identificação visual e pelo canto de inúmeras aves como garças, maçaricos, socós, sanhaços, galinhas d’água, pássaros canoros vários, colibris multicoloridos, Entre as atrações da flora ipês, manacás, inúmeras orquídeas, bromélias e principalmente as Ninphea no grande lago, completava a beleza do lugar.

Andamos trilha adentro madrugada afora. Luzes de lanterna de led baixa. Olhinhos de guanina por todos os lados. O céu, cabeleira de Nut, era um tecido de diamantes coberto de estrelas, que só fora de grandes centros podemos ver.

Já de madrugada, temperatura amena, suada, cansada, depois da exploração, fui me recolher para meu chalé arejado. Desnudei-me sem acender as luzes, nem fechar as venezianas, tomei um banho quente, trajei um conjuntinho leve de malha, fui ao centro de comunicações mandar uns e-mails para casa, dizendo que estava bem. Naquela noite, sentia-me mágica, discuti ideias com o principal entomologista do grupo, adorei. Não sei se sonhei, mas parece que ganhei uma serenata ao violão e assobio afinadíssimo dele, da música Patience, do Guns N’ Roses. Ele assobiou grande parte dela para mim. Delícia de som. Delícia de poesia. O que eu sei? Que mundo é este que separa as pessoas?

Ele disse para mim:

“Existem pessoas que são um sonho...

Se eu não posso te ter agora, eu esperarei, querida

Às vezes fico tão tenso

Mas não posso acelerar o tempo

Eu preciso de você (só um pouco de paciência)

Eu preciso de você (você é tudo que eu preciso)

Naquele dia eu não consegui entender, nem medir muito a mensagem, mas algo ficou gravado no meu coração. Na mais linda combinação de sensibilidade e afinação, descobri mais tarde que esse era um talento que ele raramente mostrava. Assustei-me com a informação.

O que falta acontecer professora, o que você precisa para ser feliz? Meus ciclos estão inacabados. Preciso fecha-los. Assim, voltar a origem e dizer a que venho!

Lucília Rinco
Enviado por Lucília Rinco em 08/09/2014
Código do texto: T4954557
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